Ricardo Neder
Os Estudos Ciência, Tecnologia, Sociedade (ECTS) têm adquirido crescente importância no cenário mundial diante da insuficiência das abordagens de natureza econômica, produtiva e tecnológica para avaliar as relações entre tecnologia & sociedade. Numa série de três artigos, apresentaremos, nesse espaço, breves análises sobre a importância dos Estudos CTS no diálogo com as grandes áreas epistêmicas na atualidade.
Para entender a relevância dos ECTS convém iniciarmos pelas linhas mais familiares do debate disciplinar entre comunidades acadêmicas, cuja divisão mais óbvia tem sido entre os que são das áreas tecnológicas e se perfilam pela política de produtividade identificada com o vinculacionismo econômico Universidade-Empresa para realizar a inovação tecnológica (embora muitos nem saibam exatamente do que se trata quando separam o social do tecnológico).
Noutro campo disciplinar, estão as comunidades epistêmicas e de práticas profissionais identificadas com profissões e carreiras na sociedade que demandam sua formação mediante o trabalho de docentes e pesquisadores das Humanidades, Artes, Arquitetura e Ciências Sociais (ainda que muitos sejam ou avessos ao debate sistemático das relações entre ciência tecnologia e sociedade, ou o incorporem como administração pura)
Não podemos acreditar piamente no que diz o folclore acadêmico da disputa de recursos como divisor de águas entre nós. Na prática sociocultural e econômica real tanto o primeiro grupo forma profissionais que dependem de outros profissionais do segundo grupo, quanto o segundo não pode entender e “fazer” a sociedade sem que seus segmentos participem de projetos tecnológicos.
Tal interdependência tem sido, aliás, o principal tom, para não dizer o cerne, dos Estudos CTS. Como seria impensável uma sociedade sem tecnologia, igualmente são inconcebíveis soluções tecnológicas impostas à sociedade capaz de gerar riscos sociais o que, via de regra, depõem contra as próprias pesquisas e inovações porque destabiliza seu regime de legitimação pública (este sim, que regula acesso a créditos, financiamentos, projetos e apoios externos a universidade).
Três abordagens econômico-produtivas e tecnológicas encontram-se em choque na universidade brasileira. Duas defendem o vinculacionsimo da inovação tecnológica com os mercados econômicos A terceira defende que a produção científica e tecnológica em seus vários campos disciplinares necessita de um novo regime de fortalecimento das articulações Ciência-Tecnologia-Sociedade, nas quais a ciência se torne ainda mais pública.
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