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OPINIÃO

Luiz Martins da Silva é poeta, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Graduado em Jornalismo, mestre em Comunicação, ambos pela UnB. Doutor em Sociologia - "sanduíche" UnB/Universidade Nova de Lisboa, pós-doutor em Serviço Social pela UnB. Ex-coordenador do projeto de extensão, SOS-Imprensa (leitura crítica da mídia), com vários livros publicados, trabalhou em diversos órgãos de imprensa. Atua nos temas: jornalismo, jornalismo público, jornalismo e sociedade, comunicação, comunicação pública, mobilização e cultura de paz, comunicação e mobilização social, cidadania planetária, cultura, mídia e política, ética na comunicação.

Luiz Martins da Silva

 

Era adolescente, quando me emprestaram um livro que contava a história da árvore de Natal. Existirão muitas versões, pois trata-se de tema avançado no imaginário popular. A que li referia-se simplesmente à iniciativa de uma família que em busca de algum ornamento para a sala de visitas saiu, neve afora, comovendo-se especialmente de um pinheirinho sobrevivente do rigoroso inverno e ainda mais lindo depois de acomodado no aconchego doméstico e acercado pelas embalagens coloridas dos presentes a serem trocados na noite do nascimento do menino Jesus.

 

Tão radiante ficou o arvoredo, que os vizinhos imitaram o gesto e, no Natal seguinte, já eram muitas as famílias que iniciaram a tradição, hoje, desgarrada de sua simplicidade original e transformada no luxo e na grandiosidade vistos todo ano nos shoppings do mundo inteiro, ostentação por vezes objeto de concursos promovidos por associações para distinguir as melhores decorações do comércio no contexto das “Boas Festas" e do Ano Novo.

 

Existiriam, no entanto, razões afetivas profundas para esse gosto que veio a constituir prática quase indispensável: nos lares, nos templos, nas instituições, no comércio e onde quer que se queira marcar uma ambientação natalina, rivalizando apenas com os não menos populares presépios. Ou seja, algo não entra para o imaginário coletivo e para duas de suas fortes marcas – diferença e repetição –, se não reunir elementos enraizadores cuja explicação recorre a fundamentos da Psicologia Social.

 

E foi justamente nas lides com a literatura acadêmica que vim a estabelecer uma correlação entre a força primordial da “árvore da vida”, uma das mais antigas manifestações arquetípicas da produção humana de símbolos, e este patrimônio imagético e fantástico que é a ‘nossa’ tão estimada árvore de Natal. Da tradição ainda mais antiga, originária, ao que tudo indica, da cultura indo-europeia, a principal característica – que deslizou para a heráldica e seus brasonários –, é a concorrência de elementos laterais para a homenagem de um terceiro, este, ao centro e ao alto. Exemplo típico, dois pombinhos, face a face, cujos bicos se tocam e cujos contornos formam um coração. A própria estrutura do caduceu comporta toda uma variedade de enlaces que adornam um cetro. Vejamos, no entanto, se o mesmo não acontece com a ‘nossa’ arvorezinha.

 

Ainda que se assemelhe a um triângulo, com a base para baixo, os dois lados da árvore de Natal convergem para o alto e, comumente, para uma estrela ao centro, homóloga à estrela dos Reis Magos. Triângulo, estrela, esferas e luzes combinam-se em tesouro ornamental, que tanto marca em diferença (em contraste com todas as outras árvores, ela é uma árvore sagrada) e em repetição: a eterna novidade, ao mesmo tempo antiga e renovada, simbolizando a vida, que também se renova, em gerações, significado e esperanças.

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