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OPINIÃO

Ana Terra

 

Muito se julga, mas pouco se debate o plágio nos corredores universitários. A matemática do silêncio é simples: reduz a chance de boas condutas, aumenta a ignorância e o malfeito. Plagiar é apropriar-se indevidamente do texto de um autor. O plagiador desrespeita o direito do autor de reconhecimento de crédito pela criação, mas também o direito do leitor de conhecer uma peça sincera quanto à autoria. No meio acadêmico, a frustração do leitor é um abalo na ciência: perde-se a confiança em sua capacidade de oferecer respostas honestas às inquietações sobre o mundo.

 

Silencioso ou escondido, o plágio pode alcançar a proporção do escândalo quando acontece. Praticado por um estudante de graduação, levará a reprovação, comissões de ética, expulsão da universidade. Cometido por um pesquisador de pós-graduação ou um professor universitário, levará a processos disciplinares e judiciais, demissões, perdas de título, retratações de artigos e vexame nos jornais. Para o plagiador, no mínimo a vergonha e o atraso na carreira. Para a comunidade acadêmica, a suspeição sobre a ciência. E é especialmente porque ameaça a integridade acadêmica que o plágio precisa ser discutido.

 

São ainda poucas as universidades brasileiras que desenvolveram políticas para informar sobre o plágio e lidar com casos concretos. Algumas divulgaram cartilhas sobre escrita acadêmica; outras se renderam à tecnologia da vigilância e adotaram softwares caça-plágio; comissões de integridade acadêmica ou de ética na escrita são item raro nas instituições brasileiras. Há três anos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) divulgou diretrizes sobre integridade acadêmica, abordando o plágio e outras más-condutas. Aposta-se nas boas práticas, mas uma aproximação sólida do tema parece ainda distante do cotidiano das pesquisas e salas de aula.

 

Também muito se especula, mas pouco se sabe de fato sobre o plágio: temas como a frequência e as razões dessa prática ou o papel da internet na cópia e em sua identificação foram ainda escassamente explorados entre nós. Há quem diga que o plágio decorra da facilidade de acesso a informações no mundo digital, ou ainda da pressão acadêmica por alta produtividade. Podemos problematizar essas crenças — o plágio já existia antes do mundo digital, e não há relação necessária entre a pressão acadêmica e o ato desonesto —, mas a verdade é que os dados são ainda inexistentes. Como todo tabu, o plágio se move na obscuridade.

 

O plágio é um malfeito, é verdade, mas há casos em que deriva do desconhecimento: confusão no uso das normas bibliográficas, emprego ineficiente das aspas e inabilidade de redigir uma paráfrase são rotas comuns da cópia indevida. Para enfrentá-lo, é essencial uma cultura de diálogo sobre a comunicação acadêmica, sua integridade e suas regras. Mas para isso precisamos encarar o tabu do silêncio. Vamos falar de plágio?

 

Ana Terra é linguista e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.

 

Palavrório: plágio

 

Debora Diniz e Ana Terra, autoras de Plágio: palavras escondidas (Editoras Letras Livres e Fiocruz, 2014), conduzem uma conversa sobre plágio nesta quinta-feira (20), às 19h, no Auditório Joaquim Nabuco, Faculdade de Direito.

 

Debora é antropóloga, professora Faculdade de Direito, da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero.

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