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OPINIÃO

César Augusto Tibúrcio Silva é professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais/FACE, da Universidade de Brasília. Graduado em Administração pela UnB e em Contabilidade pela
Unieuro, mestre em Administração pela UnB e doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP. Com livros publicados, atua nos temas: mensuração contábil, finanças de empresas, demonstrações contábeis, avaliação de empresas e custos no setor público.

César Augusto Tibúrcio Silva

 

Quando chega esta época do ano as pessoas ficam irritadas e insatisfeitas. Nós precisamos ajustar nosso relógio e mudar a rotina, acordando mais cedo. Essa pequena mudança, determinada pelo adiantamento de uma hora em razão do início do horário de verão é solenemente amaldiçoada por 11 de cada 10 brasileiros. E não adianta a televisão ou o jornal tentar convencer da importância de economizar energia.

 

A ideia de alterar o horário durante o verão foi apresentada pela primeira vez há séculos. Em 1916 foi adotada na Alemanha, então em guerra. No Brasil, o martírio chegou em 1931, mas desde 1985 é usado sem interrupção em alguns estados brasileiros. A vantagem sempre é lembrada. A desvantagem do horário de verão é a mudança no relógio biológico das pessoas, afetando o humor, aumentando os transtornos, piorando a qualidade do sono, entre outros efeitos. Pesquisas realizadas mostraram que logo após o início do horário de verão as pessoas perdem em média 40 minutos do sono, aumentando a chance de acidentes de trabalho e de trânsito. Os efeitos são transitórios, geralmente maiores nos primeiros dias, reduzindo com o passar do tempo.

 

O mercado acionário é constituído de investidores e por este motivo é um reflexo do que ocorre na sociedade. Quando estes investidores estão insatisfeitos com alguma coisa, isto terá consequências no preço das ações negociadas na bolsa de valores.

 

Uma investigação conduzida na Universidade de Brasília mostrou que o horário de verão também influencia no mercado acionário. De 1994 até hoje, o retorno médio diário das ações negociadas no mercado acionário foi de 0,05%. Já considerando somente o primeiro dia do horário de verão este retorno é de 1,13%. Ou seja, há uma valorização do preço das ações das empresas quando começa o horário de verão. Este valor é considerado estatisticamente diferente.

 

A pesquisa mostrou que não existe diferença no final do horário de verão. Isto é bastante razoável, já que em geral as pessoas tendem a serem refratárias somente ao início do horário de verão, mas não ao seu final. Outro aspecto interessante é que o segundo e o terceiro dia do horário de verão o retorno médio foi de -0,54%. Em outros termos, os ganhos obtidos logo depois do primeiro dia são anulados a seguir. Com efeito, o retorno médio dos três primeiros dias após o início do horário de verão é de 0,03%, um pouco abaixo da média dos demais dias.

 

Já a análise realizada com o risco diário do mercado acionário não apresentou nenhuma diferença estatística, apesar do risco ser um pouco mais alto. Isso pode ser explicado pelo fato dos dados abrangerem um grande período, onde em alguns anos o mercado foi muito volátil.

 

Em suma, num tempo onde as decisões de investimento dos grandes aplicadores são realizadas com auxílio de programas com fórmulas nas quais não se leva em conta os sentidos das pessoas, é curioso perceber que o mercado acionário, a princípio considerado o templo da racionalidade, reage quando o relógio biológico dos investidores não está ajustado com a hora oficial.

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