OPINIÃO

Rosineide Magalhães de Sousa é brasiliense, sociolinguista, professora da Licenciatura em Educação do Campo, área de linguagem, Linguística, da FUP e da Pós-Graduação em Linguística da UnB. Líder do Grupo de Pesquisa Sociolinguística, Letramentos Múltiplos e Educação (SOLEDUC), certificado pelo CNPq. Nesse grupo coordena pesquisa sobre o falar brasiliense e outros projetos de sociolinguística.

Rosineide Magalhães de Sousa

 

Em tempos de pandemia mundial do coronavírus (Covid-19), que causa tantas mudanças nas nossas vidas, vamos comemorar no dia 21 de abril o aniversário de Brasília de uma forma bem diferente, sem a interação face a face, sem atividades que reúnam as pessoas na alegria de ser candango, brasiliense ou, simplesmente, de viver  nesta capital da esperança. Brasília completa 60 anos de existência.  Palco das decisões nacionais, a capital federal abriga os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e diversos organismos internacionais, que agregam culturas, identidades e línguas diferentes à nossa terra. Além de ser o centro do poder brasileiro, ela tem outras identidades, culturas e histórias. Neste texto, apresentamos Brasília na visão Sociolinguística: na interação língua (variedade linguística), cultura e identidade, considerando a sua história.

 

Em 1822, já havia a preocupação, de natureza geográfica, da mudança da capital brasileira do litoral para um território mais central. Em 1955, o então presidente da república Juscelino Kubitschek decretou a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste. Das pranchetas do urbanista Lúcio Costa e do arquiteto Oscar Niemeyer surgem os traçados que deram origem à cidade de concreto armado, levantada no quadrilátero, o Distrito Federal, no meio do Cerrado. Para a construção  da nova capital, a partir de 1956, vieram, com incentivo do governo da época, imigrantes de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará e Piauí, os chamados candangos (LIMA NETO, 2018), vieram, também, os funcionários públicos transferidos e os pioneiros para atuarem no comércio, no serviço médico, nas escolas e em outras atividades.

 

Brasília, com seis décadas, tem uma população que atinge três milhões de pessoas, estão entre elas os imigrantes de todas as regiões do Brasil, de diferentes países do mundo, e os brasilienses que estão na terceira geração, conforme pesquisa de Lima Neto (2018). Além do Plano Piloto, Brasília, aqui compreendendo o Distrito Federal, na perspectiva semântica da sinédoque, tem trinta e duas regiões administrativas, antes chamadas de cidades satélites. A capital brasileira, de vocação cosmopolita, plural, de convivência harmoniosa (BORTONI-RICARDO et al., 2010) já possui uma variedade linguística, o dito “sotaque”, que identifica o brasiliense na sua forma de falar:  pronúncia marcada da sibilante /s/,  não marcada do  rótico /r/, do chiado, como em tchia;  uso de palavras que só existem em Brasília, tais como: tesourinha (conjunto de pistas curvas, sem  cruzamentos) , balão (rotatória), buraco do tatu (túnel), camelo (bicicleta) e inúmeras  especificidades linguísticas. Fora de Brasília, somos identificados pela nossa forma peculiar de falar.

 

Brasília é identificada por reunir variedades linguísticas de todo o Brasil, línguas de várias partes do mundo e diversidade cultural, artística e culinária. Tal faceta,  cunhada nessa interface orgulha os brasilienses de origem e de coração. PARABÉNS, BRASÍLIA!

                       

 

Referências

LIMA NETO, Newton Vieira. Brasília, sua gente, seus sotaques: difusão candanga e focalização brasiliense na capital federal. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-Graduação em Linguística. Universidade de Brasília (UnB): Brasília, 2018.

 

BORTONI-RICARDO, Stella Maris et al (Orgs). O Falar candango: análise sociolinguística dos processos de difusão e focalização dialetais. Brasília: Universidade de Brasília, 2010.

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