OPINIÃO

Abner Luis Calixter é gestor, doutorando na Universidade de Brasília, mestre em desenvolvimento internacional sustentável, consultor em estratégias de adaptações com experiência internacional de pesquisa nas universidades de Harvard, MIT, Brandeis e Erasmus Rotterdam.

Abner Luis Calixter

 

A vida como conhecíamos acabou. A covid-19 antecipou a já prevista ruptura do nosso modo de vida urbano. Termos como vulnerabilidade e resiliência antes relacionados mais estritamente a estudos climáticos, agora estão sendo duramente testados na prática por um inimigo invisível. Diferentemente das mudanças climáticas, contra o covid-19 há expectativa que uma vacina seja disponibilizada de 6 a 18 meses.  Com o sistema público de saúde e pesquisa minimizados e sobrecarregados, não há outra saída senão a adoção de fortes medidas para limitar o contato social da população. O modelo matemático de uma equipe de pesquisa do Reino Unido prevê quase meio milhão de mortos no Brasil caso falhemos com as medidas de isolamento social impostas para mitigar a pandemia do covid-19.

Portanto a ficha deve cair que as pessoas ficarão muito mais em casa de agora em diante. E isso não deve acontecer por apenas poucas semanas. Mas sim por meses! Ou até que a imunização cubra o mundo todo. É o que discute especialistas como Ann Forsyth em seu artigo publicado pela Harvard Graduate School of Design. Até porque não se sabe como será o comportamento da pandemia após essa primeira onda de contaminações. Uma nova onda de contaminações é algo muito provável de acontecer principalmente nos países em desenvolvimento. E não está descartada a possibilidade do covid-19 sofrer uma mutação até que a vacina chegue até nós.

E como ADAPTAR-SE aos efeitos que a pandemia traz de imediato em nossa vida urbana?

É difícil falar de prioridade em garantir acesso universal à internet quando se prevê que cidades e bairros a serem mais duramente castigados pela pandemia serão aqueles sem provisão adequada de água e saneamento. Além disso, mais de 13 milhões de brasileiros vivem em comunidades precárias sem condições ideais de isolamento devido ao seu “layout”. Tecidos urbanos super adensados com construções de baixa qualidade, onde vivem muitas pessoas juntas em imóveis dotados de pouca ventilação e mofo, tendem a tornar dramática a luta contra esse vírus. Problemas urbanos estruturais como esses vêm sendo colocados em segundo planos há tempos.

O ataque desse vírus causou uma pane na estrutura política, social, econômica e psicológica do mundo todo. A gravíssima recessão econômica é certa, e arrojadas medidas macro e microeconômicas devem ser tomadas para proteger os mais vulneráveis uma vez que os piores impactos da pandemia serão sentidos pelos que dispõem de menos recursos. Além disso, os que mais rapidamente aceitarem o fato que este distanciamento social, fechamento de escolas, universidades, comércios e serviços é o novo normal poderão se adaptar mais rapidamente e continuarem existindo.


Clique aqui para continuar a ler

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.