OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

 Isaac Roitman

 

Iam L. Boyd, biólogo e professor da Universidade de Saint Andrews na Escócia, em artigo publicado na revista Science, afirma que no parlamento britânico – que tem 650 membros – apenas um (0,15%) possui doutorado em ciências. Parece um número surpreendentemente pequeno em uma democracia madura. Cerca de 0,8% das pessoas no Reino Unido têm doutorado em ciências, o que indica que a ciência está seriamente sub-representada. Isso é correto? Quais são as consequências?

 

O autor acrescenta: “A menos que a comunidade científica compreenda esse problema de desempoderamento sistêmico no governo e na política, a ciência continuará sendo manipulada dentro de um jogo político dominado por interesses. Parece que a sub-representação da ciência continua, a menos que o processo do próprio governo se torne mais diversificado. Os próprios cientistas podem ajudar demonstrando maior liderança de pensamento, demonstrando mais entusiasmo em se tornar parte do governo em todas as suas formas e valorizando as contribuições dos colegas que se envolvem”.

 

No Brasil, assim como no Reino Unido, temos uma baixa representatividade dos cientistas no parlamento e na política. A ciência brasileira é relativamente recente e teve como marcos importantes a criação do Instituto Oswaldo Cruz no início do século XX, a criação da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 1916, a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em 1948, a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 1951, a criação da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (Capes) em 1951, a criação da Financiadora e Estudos de Projetos (Finep) em 1967 e a criação do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) em 1985.

 

A ciência brasileira é respeitada e já contribuiu de forma significativa com a produção do saber em várias áreas de conhecimento. No entanto, temos que criar instrumentos para que o conhecimento científico possa ser uma bússola no objetivo de aperfeiçoamento das políticas públicas que possam contribuir com o bem-estar físico e psicológico de todas brasileiras e todos brasileiros. É pertinente que se estabeleça um diálogo permanente entre a comunidade científica e o parlamento brasileiro. É extremamente importante que o executivo busque na ciência os caminhos para a resolução dos problemas do presente e as ações que visem a felicidade das futuras gerações.

 

Considero importante que os debates e propostas da SBPC e ABC sejam considerados pelos governantes, como também a participação dos cientistas no ambiente político. Podemos nos inspirar na história revisitando dois exemplos de cientistas que exerceram o cargo de presidente e que contribuíram de forma significativa para o progresso de seus respectivos países.

 

O primeiro, o do químico Chain Weizmann, que foi o primeiro presidente de Israel (1948-1952), que consolidou e semeou as bases da nova nação judaica. O segundo, o engenheiro aeronáutico Avul Pakir Jainulabdeen Abdul Kalan, que foi presidente da Índia (2002-2007).

 

Me pergunto, voltando à realidade de nosso país, se seria uma boa ideia termos um cientista na Presidência da República? Qual é a opinião do leitor?

 

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Publicado originalmente em Monitor Mercantil em 24/6/2020

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