OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

Vivenciamos uma crise sem precedentes. Perdemos mais de 100 mil brasileiros e brasileiras devido à pandemia da covid-19. As consequências negativas na economia nos próximos anos são preocupantes. A crise política alimentada pela desinformação e sem as lideranças desejáveis não permite ter-se uma visão otimista do futuro.
 
Em adição, temos uma crise de valores e hábitos. Apesar da angústia e do sofrimento provocados pela crise, ela pode ser uma oportunidade que poderá tirar as pessoas da zona de conforto, despertando a criatividade e o protagonismo.
 
Segundo Leonardo Boff, podemos aprender com a crise brasileira e avançar nos sonhos e nas utopias no Brasil que queremos, e não no país que herdamos, parcialmente colonizado, sem democracia plena e injusto. Podemos avançar na superação da vergonhosa desigualdade social, caracterizada por uma perversa concentração de terras, de capitais e de uma dominação do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da dívida pública.
 
Segundo Boff, precisamos reinventar o Estado nacional que atende as classes que detêm o ter, o poder, o saber e a comunicação, atendendo as demandas das oligarquias, deixando sempre o povo de fora. Certamente, com os avanços científicos, principalmente o desenvolvimento de vacinas, vamos superar a crise sanitária. E as outras crises? Um grande número de pessoas respeitáveis tem declarado que o caminho para termos um país com vida digna para todos é a educação.
 
No Brasil, há muitas décadas todos os governos proclamam que a educação é sua meta prioritária. Proclamação retórica, demagógica e enganosa. Segundo todos os índices e as pesquisas nacionais ou internacionais, a qualidade da educação brasileira está cada vez mais precária, constituindo-se como a maior das tragédias nacionais. Nossas escolas produzem um número considerável de analfabetos plenos e funcionais. O papel do educador enquanto facilitador da liberdade de aprendizagem para transformar socialmente os indivíduos não passa de uma intenção não concretizada.
 
Em 1932, intelectuais brasileiros lançaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Reproduzo os parágrafos iniciais do texto escrito por Fernando de Azevedo: “Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional”. Nada mais atual.
 
Em 1959, redigido também por Fernando de Azevedo, foi lançado o segundo Manifesto, subscrito por 118 intelectuais, entre eles Anísio Teixeira, Júlio de Mesquita Filho, Luiz Gouveia Labouriau e Florestan Fernandes. Nesse documento consta: “A educação pública, por toda a parte, está sujeita a crises periódicas, mais ou menos graves, e a bruscos e passageiros eclipses”. 

 

 

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Publicado originalmente no Monitor Mercantil em 20/8/2020.

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