OPINIÃO

Rodolfo Augusto Melo Ward de Oliveira é programador Visual da UnB. Doutorando em Artes Visuais e mestre em Arte Contemporânea pela linha de pesquisa, Arte e Tecnologia, da Universidade de Brasília - UnB (2019). Pós-Graduado em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais IREL/UnB (2020). Pós-Graduado em Análise Política e Políticas Públicas pelo Instituto de Ciência Política - IPOL/UnB (2018).

Rodolfo Ward

 

As profundas mudanças na função das imagens e sua representação na história da arte têm sido influenciadas pela expansão do conhecimento nos estudos em cultura visual que projetam consequências em diversas áreas das artes e refletem na cultura e na sociedade, inclusive na função do observador. Com o objetivo de contribuir com a disciplina de cultura visual, Mitchel (2015) cunhou um termo para facilitar o estudo sobre as imagens e suas potências: virada pictórica.  


A virada pictórica surge para sanar a nova crise da teoria que não consegue enquadrar ou conter a imagem que escapa a todas as definições, sistemas e mídias na atualidade. A virada pictórica contesta a metafísica que sustenta a virada linguística2 e constata o esgotamento dessa metafísica, ou seja, é uma tentativa de colocar as imagens como criadoras da realidade. Segundo Mitchell (2015), uma vez que o mundo contemporâneo é formado por imagens, então a denúncia pela imagem está privada de qualquer eficácia. Para ele, a imagem escolheu responder às pessoas, escolheu ter vida, mas a ela falta vida, sendo assim elas precisam de nós para serem o organismo do qual ainda são sombra desencarnada. Mitchell adota um método não iconoclasta de teoria das imagens que não busca dominar as imagens. Ele leva em consideração para sua análise as definições de imagem expandida em conjunto com a imaginação de caráter sensual e fantástico. O autor afirma que a imagem é quase corpo, mais que ilusão e menos que organismos vivos. 


A virada pictórica levantada por Mitchell (2015) questiona o status da imagem, elevando-a ao patamar de um ser desejante que busca seu lugar levando em consideração sua individualidade complexa e identidades múltiplas. Ele transfere às imagens características próprias das minorias e dos subalternos e cria relação com estudos de Fanon, Marx e Freud, deslocando “a pergunta do que as imagens fazem para o que elas querem, do poder para o desejo, do modelo de poder dominante, ao qual devemos nos opor, ao modelo subalterno que deve ser interrogado, ou melhor, convidado a falar” (MITCHELL, 2015, p. 171). Para Mitchell, as imagens querem ter um tipo de maestria ou poder sobre o espectador, como uma espécie de encantamento. Elas têm algo a dizer e dizem, e devemos deixar que as imagens digam sua impressão sobre nós. Entretanto, será que as pessoas estão em condição de entendê-las?  


As imagens produzidas a partir da modernidade exigem uma atenção maior e um pré-conhecimento artístico por parte do observador. Elas carregam mistério e devem ser interpretadas. Magritte (1992) é um exemplo de artista visual que utiliza as potencialidades do mistério, não se limitando a reproduzir as aparências, mas forçando o observador a ir além à interpretação da imagem, para o artista “a imagem não diz nada, o observador é quem deve descobrir e sentir seu significado”. Quando ele diz “não há respostas em minhas pinturas, só perguntas”, demonstra que as imagens contemporâneas nos fazem mergulhar em um mundo de incertezas. É nesse panorama de imagens, mistério, rupturas, fricções, dúvidas que nasce a fotografia artística. Uma ruptura entre o real encarnado e o ficcional desencarnado. O que as imagens teriam a nos dizer? 

 

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