OPINIÃO

Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara

 

Todos já estamos vacinados quanto ao lado danoso das redes sociais e da internet em geral. Se antes a gente se encantava com as promessas de emancipação, de democracia, acesso ao conhecimento e do potencial de relacionamentos, hoje somos desconfiados. A fake news , as bolhas, a ansiedade e a manipulação através de algoritmos são as faces mais notáveis dessa nova interpretação.

 

O documentário O Dilema das Redes traz um retrato interessante de toda a ciência aplicada num mercado que compete pelo nosso tempo e a nossa atenção, através de estratégias de reforços intermitentes positivos: notificações, marcação de outros perfis em fotos, o ato de passar constantemente o feed para ter novidades etc.

 

Esse cenário ajuda a compor o que Guy Debord chama de sociedade do espetáculo, na medida em que essas plataformas trabalham com imagens e representações artificiais do que seria a vida. É como se renunciássemos ao desfrute da nossa insubstituível vivência. Dizia Debord: “Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação”. De protagonistas, seríamos espectadores da própria história.

 

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han critica a euforia da comunicação nas redes, que seria uma comunicação degenerada, sem a presença do interlocutor, em que as relações de fato cedem espaço para meras conexões. A comunicação digital seria falha, inclusive, porque não contempla todos os sentidos. Para se afastar dessa lógica, o pensador passou a cultivar um jardim secreto, “que me deu contato com a realidade: cores aromas, sensações” (...) “a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos”.

 

Tem havido movimentos na direção de desfrutar mais o off-line. E por incrível que possa parecer, a tal da geração Z tem tido protagonismo. Pesquisa da agência Dentsu Aegis Network identificou que jovens entre 18 e 24 anos estão usando bem menos as redes sociais. Muitos expressam o mal-estar por terem as próprias emoções e os sentimentos manipulados pelas grandes corporações.

 

Eu não sou da geração Z (sou da Y), mas, assim como Byung-Chul Han, tenho as minhas técnicas de reencontro. Dia desses eu voltei a frequentar o parque perto de casa. Dia nublado, úmido, ameaça de chuva, vento discreto massageando suavemente o rosto. Muito agradável! Parecia os tempos da minha infância na deleitosa Petrópolis. Fiquei sozinho embaixo de uma árvore de média altura, tronco de circunferência pequena, folhas médias e tons verdejantes. Parecia ser de algum fruto, mas não soube identificar qual era. Tirei a máscara (ninguém por perto), sentei sobre uma canga, deixei o celular ligado ao lado, mas desliguei a internet.

 

Que paz! Quase flutuando, observava as pessoas passarem a pé, de patins, bicicleta, conversando sentadas em bancos ou mesmo no gramado. Liguei um pouco a música Morning Mood, mas segundos depois eu desliguei. O momento exigia um desnude do digital. Nada mais rico naquele instante do que apreciar a orquestra da natureza, os cantos dos pássaros, o mexer das folhas das árvores, o próprio vento, barulhos difusos de crianças ao fundo. Algo extraordinário, embora ordinário.

 

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