OPINIÃO

Suely Sales Guimarães é pesquisadora colaboradora sênior do Departamento de Psicologia Clínica da UnB, Ph.D em psicologia, experiente em docência, pesquisa e assistência clínica em condições de transtornos mentais, sofrimento em condições adversas e psicologia da saúde. 

 

Suely Sales Guimarães

 

Durante muitos anos o papel da mulher foi caracterizado pelo desempenho de atividades voltadas ao lar, como serviços domésticos e cuidados com crianças ou familiares fragilizados. Sua subsistência dependia, em geral, de proventos advindos do trabalho remunerado exercido por homens da família.


Ao longo do tempo a atuação feminina mudou de forma exponencial e hoje a mulher ocupa lugar de destaque em diversas áreas de trabalho que demandam competência, formação e qualificação específicas. Uma dessas áreas é a psicologia com suas subáreas, sendo as mais conhecidas a clínica, educacional, organizacional e da saúde. No Brasil, as mulheres representam pelo menos 86% dos 388.654 profissionais registrados no Conselho Federal de Psicologia e, em Brasília, elas são pelo menos 83% dos 12444 registros.


Psicólogos atendem demandas específicas inerentes à vida do ser humano. A atenção e os cuidados prestados requerem conhecimento das peculiaridades características da infância, idade adulta e velhice bem como de técnicas e procedimentos adequados a cada momento. São exemplos de demandas as dificuldades familiares, adoecimento físico, processos de aprendizagem, condições de trabalho, adaptação a novas situações e transtornos mentais, como depressão e pânico.


A assistência psicológica também requer respeito, acolhimento e empatia para com o assistido. Nem sempre essas condições são simples, considerando que a pessoa assistida pode ter assassinado um idoso, estuprado a própria filha, ou ser um chefe abusivo. Pessoas com esse tipo de histórico e outros igualmente rejeitados por valores morais e sociais podem buscar assistência por demanda própria, por ordem judicial ou podem estar em condições de hospitalização e demandar assistência psicológica.


Nesse momento em que a violência contra a mulher – que sempre existiu e pouca atenção recebeu – toma visibilidade e recebe atenção dos órgãos judiciais, aumenta a demanda por assistência à vítima e ao agressor. Sim, o agressor também demanda intervenção psicológica ou seu comportamento pode permanecer recorrente, mesmo após a possível prisão. A intervenção requer aceitação da pessoa como ser humano e qualificação técnica para identificar a possível etiologia e curso do comportamento criminoso ou inadequado.


Para a psicologia, pessoas que cometem tais atos são também seres humanos com peculiaridades e história únicas, cujas dificuldades e necessidades psicológicas devem ser atendidas. E esse atendimento é desvinculado de julgamento e voltado à redução do sofrimento e ao desenvolvimento de um repertório comportamental mais adequado à sociedade e ao bem-estar do assistido.


Além das atividades práticas, a psicóloga destaca-se também como docente e pesquisadora, formando profissionais e gerando conhecimento através de pesquisas teóricas, básicas e aplicadas. Favorece a compreensão dos processos psicológicos e o desenvolvimento de técnicas interventivas compatíveis com a demanda.


Atuar na psicologia é mais uma das relevantes contribuições da mulher para a melhoria do mundo em que vivemos.

 

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