OPINIÃO

Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara

 

Neste dia 1º de Maio, merecem parabéns, de coração, todas e todos trabalhadores da UnB: técnicos, professores e terceirizados. Vivemos um momento muito difícil e peculiar da nossa história, em que o trabalho é exercido com um grau elevado de estresse e abalo da saúde mental, dois elementos-chave capazes de afetar a produtividade laboral e o bem-estar das pessoas, não só em âmbito profissional, mas em todas as áreas da vida. Muitos descobriram que o home office não é uma das Sete Maravilhas do Mundo, ainda mais em tempo de pandemia.

 

Aliás, abro um parêntese para expressar solidariedade a todos os trabalhadores da UnB que, infelizmente, perderam familiares e amigos próximos, bem como a familiares de trabalhadores da Universidade falecidos pela covid-19. Vez ou outra, surgem notícias de novas vítimas.

 

Com certa frequência, eu ouço de servidores de distintos setores da UnB que “nunca trabalhei tanto na vida” (entre aspas mesmo). Sempre é bom lembrar que quase todas as atividades presenciais da Universidade estão suspensas, mas a produtividade está a todo vapor. Pesquisas, relatórios, aulas, palestras, levantamentos, publicações, eventos on-line, projetos, reuniões, enfim, a UnB está produzindo, apesar do distanciamento social e das dificuldades orçamentárias aplicadas aos campos da Ciência, Tecnologia e Educação.

 

De vez em quando, nós ouvimos aquele injusto discurso que critica os servidores, como se fôssemos uma casca patriarcal privilegiada na sociedade. Prefiro pensar que tais críticas sejam motivadas por desconhecimento do que nós fazemos. A quem pensa assim, faço o convite para acompanhar a rotina de um trabalhador da UnB, em especial durante a pandemia. E trabalhar em home office com filho, então? E com filho pequeno, então?!

 

Durante a escrita desse artigo, parei por três vezes para colocar a minha filha para dormir de volta, mexendo o carrinho e cantando uma musiquinha de um jeito que só eu sei cantar. Seria muito mais fácil nós sairmos de casa, vestirmos integralmente o papel de profissional, exercermos com competência as nossas atividades, voltarmos para casa e trocarmos de papel novamente. Mas, não está sendo assim. O contexto nos impôs uma sobreposição de perfis (profissional, pai e mãe, dono de casa, moribundo cansado) muito difícil de administrar (acho que o Rodrigo Hilbert se sairia bem).

 

No WhatsApp, mensagens de trabalho de manhã, de tarde e de noite, não raro também nos feriados e fins de semana. Não por imposição institucional, mas porque a dinâmica do home office atrelada a um discurso contemporâneo de trabalho nos induzem à produtividade a qualquer momento. Fomos ensinados a ter prazer em dizer “sou um workaholic”. Soa cool. É mais ou menos aquele meme sobre o professor que precisa tirar férias para concluir aquele artigo, avançar nas orientações e entregar os relatórios. Você acredita que eu esqueci de tirar parte das minhas férias esse ano?

 

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