OPINIÃO

Arthur Trindade Maranhão Costa é diretor do Instituto de Ciências Sociais, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança (NEVIS/UnB) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Mestre em Ciência Política e doutor em Sociologia pela UnB. Foi secretário de Segurança Pública e Paz Social do Distrito Federal. Pesquisa e publica trabalhos sobre os temas: violência urbana, polícias, segurança pública, democracia e cidadania.

Arthur Trindade

 

 

Na segunda-feira, dia 14, faleceu Gláucio Ary Dillon Soares no Rio de Janeiro, aos 87 anos. O professor Gláucio Soares foi um dos mais destacados cientistas sociais brasileiros, sendo uma referência intelectual e afetiva para várias gerações de pesquisadores e professores.

 

Depois de formar-se em Direito, Gláucio viajou aos EUA para realizar seus estudos de pós-graduação. Após obter o diploma de doutorado em Sociologia pela Washington University em St. Louis em 1965, Gláucio iniciou sua longa e rica trajetória acadêmica. Ele foi pesquisador e professor em diversas universidades no Brasil e no exterior: Universidad Nacional Autónoma de Mexico, University of California Berkeley, Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, Massachusets Institute of Technology – MIT, Harvard University, University of Cornell, El Colegio de Mexico, University of Essex, University of Florida, Fundação Getúlio Vargas e Instituto de Estudos Sociais e Políticos – UERJ.


Na Universidade de Brasília, Gláucio Soares foi professor em dois períodos. Entre 1970 e 1977, ele ajudou a construir o então Departamento de Ciências Sociais, sendo um dos seus primeiros chefes. O período na UnB foi interrompido quando ele e sua família viram-se compelidos a deixar o país. Quase duas décadas depois, Gláucio retornou ao Instituto de Ciências Sociais para ministrar aulas no Programa de Estudos Comparados sobre as Américas, entre 1995 e 2000.


Ao longo da sua trajetória acadêmica, Gláucio Soares percebeu a necessidade de aperfeiçoar a metodologia de pesquisa em uso nas ciências sociais. Ele foi um dos primeiros sociólogos a combinar pesquisas qualitativas e quantitativas. Ensinava seus alunos e alunas a combinar o rigor metodológico com a imaginação sociológica.


Na condição de sociólogo nômade, Gláucio Soares dedicou-se a vários temas de pesquisa. Na década de 1960, ele inovou os estudos sobre partidos políticos no Brasil, fugindo dos esquemas classistas e dominantes naquele momento. Ele também introduziu a pesquisa eleitoral no país. Com a transição política da década de 1980, Gláucio passou a dedicar-se aos estudos sobre a ditadura militar, publicando livros e artigos que são referência obrigatória para qualquer um que queira entender aquele momento histórico.


A partir dos anos 1990, passou a pesquisar um dos maiores flagelos da sociedade brasileira: as mortes violentas. Gláucio tinha convicção que a pesquisa social era ferramenta fundamental para entender os problemas e apontar soluções. Ele sabia que o rigor metodológico era capaz de salvar vidas. E assim participou ativamente de projetos e programas sobre segurança no trânsito, prevenção de suicídios, acolhimento de vítimas e redução de homicídios. Ele também mantinha um blog sobre enfrentamento ao câncer, doença contra qual lutava há anos.


Intelectual e humanista, Glaucio Ary Dillon Soares deixa esposa, cinco filhos e vários netos. Sua partida é uma grande perda para a ciência brasileira.  

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