OPINIÃO

Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara

 

Certa vez, eu fiz uma entrevista pela internet cujo convidado queria gravar em pé na cozinha, com geladeira, copos e panos de prato ao fundo. Parece anedota, mas é verdade. E olha que a pessoa tinha afinidade com a comunicação! Por fim, consegui convencê-la de que aquele não era o melhor ambiente para gravar, que não ficaria bem para nenhum dos dois.


Esse episódio é emblemático para mim porque lança luz sobre a importância da comunicação dentro do ambiente acadêmico, ainda mais nos dias de hoje. Durante a pandemia, quase todas as nossas atividades migraram para a internet: eventos, entrevistas, reuniões, lecionar aulas, defesas de teses etc. As nossas casas passaram a ser, também, um espaço da imagem institucional da UnB, a partir do recorte cenográfico que “vendemos” através dos vídeos à audiência (estudantes, outros acadêmicos, imprensa e mesmo a sociedade em geral). É importante essa noção de representação, mesmo em casa – onde podemos usar camisa engomadinha aparecendo no vídeo e bermuda florida não aparecendo. Não que eu faça, hein!


Conheço professores e outros acadêmicos muito conscientes da importância da comunicação no processo informacional, criando praticamente um estúdio dentro de casa, com equipamentos como chroma key, ring light e programas específicos de gravação, edição e pós-edição de vídeos. Essa seria a atitude ideal, mas nem todos estão dispostos a investir e nem conhecem técnicas suficientes de manejo dessas ferramentas. Ok, sem problema algum. Afinal, não são comunicadores profissionais.


Conheço também outros acadêmicos que não têm todos esses recursos, mas se preocupam bastante com o contexto de transmissão das suas falas, observando o cenário de fundo, preocupados com a iluminação (ainda que com luminárias simples), se os óculos estão limpos, se os livros na estante atrás estão organizados, se a camisa está passada. São profissionais que têm à disposição, por exemplo, fotos adequadas (não selfies de Facebook no churrasco da família) para enviarem à organização de um evento do qual serão palestrantes ou a jornalistas aos quais darão entrevistas. Tudo isso conta. É a imagem deles e da instituição (UnB, no caso) que está circulando por aí, inclusive nas redes sociais. Enfim, sabem que tudo comunica, que comunicação não é só verbal e nem é só conteúdo. A sinergia entre forma e conteúdo é fundamental para o processo de percepção e apreensão das informações.


Já outros profissionais ainda não captaram o que é a comunicação para o mundo de hoje em dia. Possivelmente, foram formados em outros paradigmas e ainda não se atualizaram com as dinâmicas e os desafios contemporâneos. Faz parte do processo de transição. De qualquer forma, penso que estamos evoluindo de uns anos para cá.


Um artigo científico, ainda que o tema seja relevante, os dados sejam interessantes e a metodologia seja pertinente, precisa ter uma boa escrita, ou seja, precisa se fazer entendível para os pares, no caso. A forma de entrega das mensagens também comunica, dando mais clareza sobre o que se quer dizer.

 

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