OPINIÃO

Alexandre Moraes de Mello é egresso-pioneiro do curso de Educação Física da UnB (1973-1977), mestre em Didática da EF (UFRJ, 1985), doutor em Educação pela USP (1998) e fez pós-doutorado no Experice (Univ. Paris 13-Paris 8, Sorbonne Paris Cité, 2014). É professor titular da UFRJ e foi diretor da Escola de Educação Física e Desportos. Atualmente leciona no Programa de Pós-Graduação em Dança da UFRJ (PPGDan).

Alexandre Moraes de Mello

 

Centro Olímpico da UnB: Espaço Diferenciado de Formação

 

O curso de Educação Física (EF) foi implantado na UnB em 1972 com disciplinas do ciclo básico, mas ganhou forma a partir do segundo semestre de 1973 com as primeiras matérias específicas oferecidas pelo Departamento de Educação Física.

 

Destacava-se entre as instalações o Centro Olímpico (CO) com suas privilegiadas “salas de aula” para o Atletismo, Voleibol, Natação etc., espaços de formação e de convivência entre alunos e professores. Inaugurado em 1971, o CO já estava disponível para o curso iniciado no ano seguinte, situação diferente de outras instituições brasileiras que tiveram que recorrer às dependências externas municipais e privadas para poder instalar seus cursos.

 

O Plano Orientador, o CO e o Curso de EF

 

O Plano Orientador (PO) da UnB, concebido por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, visava torná-la a mais inovadora universidade brasileira, na qual seriam preparados especialistas qualificados nas ciências, tecnologias e artes para soluções democráticas das questões do país (UNB, 1962). Para o desafio, foram convidados professores destacados no Brasil e no exterior.

 

No gráfico da “Estrutura da UnB” (UNB, 1962, p. 24) apresentado no PO[1], o curso de EF estava ligado ao Estádio, atual CO, ou seja, os autores já o identificavam como espaço de formação. Seguindo as diretrizes do PO efetivadas nos primeiros cursos, a EF da UnB poderia ocupar lugar de destaque no Brasil. Provavelmente, seriam convidados nomes de referência para pensar a sua proposta inicial.

 

Entretanto, a EF não desfrutou de inovações. Nove dias após o golpe militar de 1964, a UnB foi invadida por tropas do exército e policiais. O reitor Anísio Teixeira e um grupo de docentes foram demitidos, levando outros 223 a pedirem demissão (SALMERON, 1999). Outras invasões ocorreram em 1968, 1971 e 1977, nesta última os alunos da EF conviveram com ações de repressão e violência que prejudicaram a vida acadêmica. As ideias expressas no PO foram interrompidas e o currículo da EF ficou semelhante aos demais do Brasil.

 

Contudo, além das instalações, alguns avanços permaneceram na UnB dos anos 1970. As matérias optativas em outras unidades aproximavam a EF às demais áreas do conhecimento (Ciência Política, Artes, Letras etc.), a biblioteca permanecia aberta 24 horas e, também relevante, o CO era espaço de convivência aberto ao lazer para todo o corpo social da UnB. 

 

Considerações Finais

 

Sem os ataques à UnB, como teria sido a EF inspirada na originalidade do Plano Orientador?

 

Penso que talvez uma EF transformadora, diferenciada, centrada nas práticas pedagógicas e pesquisas realizadas em ousados projetos sociais planejados no CO.

 

Ao concluir, ressalto a relevância dos 50 anos do CO para a EF, bem como a necessidade da defesa permanente dos valores democráticos e o repúdio às ameaças autoritárias e intervencionistas.

 

Referências

SALMERON, R. A universidade interrompida. Brasília: Ed. UnB, 1999.

UNB. Plano orientador da UnB. Brasília: Ed. UnB, 1962.

 

[1] No Plano Orientador da UnB (1962) o Curso de Educação Física se conecta diretamente ao “Estádio”, classificado como “órgão complementar”, da mesma forma que o Curso de Biblioteconomia está associado no documento à Biblioteca Central.

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