OPINIÃO

Rozana Reigota Naves é professora e pesquisadora do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP), com ênfase na área de teoria e análise linguística, aquisição de línguas e educação linguística. Tem doutorado em Linguística pela Universidade de Brasília.

Rozana Reigota Naves

 

A inspiração para este texto provém de Darcy Ribeiro, em citação publicada pelo Correio Braziliense, na edição de 22 de agosto passado. A indignação, que me motivou a escrever, das declarações recentes do mais alto encarregado da formulação e implementação das políticas educacionais no país.


Retomo Darcy, cujo centenário de nascimento se completará em outubro próximo e será celebrado na Semana Universitária da UnB, este ano. Trata-se da seguinte passagem do livro UnB: Invenção e Descaminho (1978): “É de assinalar que não só as ideias básicas da UnB são ainda válidas. Também seus projetos e ambições são atuais. Entre eles as ambições maiores de ajudar o Brasil a repensar-se como projeto”.


A atualidade dessa citação é inequívoca. No último ano e meio, os esforços de docentes, técnicos/as e estudantes e o trabalho da gestão estiveram focados na adaptação e transformação possíveis diante da realidade impositiva do distanciamento, que levou as atividades acadêmicas e administrativas para o ambiente remoto, como forma de proteger vidas.


Esforço institucional que me reporta à utopia que nos constitui. Utopia que exige da Universidade “capacidade de elaborar criticamente seu momento e ao mesmo tempo considerar a possibilidade de transformação do modo como organiza a produção de sua existência social” e “nos exige posicionamentos frente à nossa responsabilidade como instituição social, pública e acadêmico-científica, numa perspectiva tanto de resistência aos desmandos quanto de criatividade no enfrentamento dos desafios trazidos por contextos de crise” (Projeto Político Pedagógico Institucional da UnB, 2018).


Diante de tão exigente proposta, que representa a nossa identidade, a UnB não se furtou a se posicionar. O ensino buscou alternativas viáveis para que não descontinuar os processos educacionais – e experiências pedagógicas, em alguns casos inovadoras, têm preenchido o vazio dos encontros nos campi. A pesquisa e a extensão se voltaram fortemente para o combate à pandemia e o compromisso social de enfrentamento das dificuldades do período. As ações de assistência e acolhimento possibilitaram manter-nos próximos, ainda que na distância. O exercício da gestão democrática se manteve vivo nas reuniões virtuais dos órgãos colegiados em todas as instâncias. Essa foi também a resposta das instituições federais de educação superior país afora.


Exercemos, mais uma vez, o protagonismo que nos caracteriza. E, sim, nos solidarizamos com os que perderam familiares, amigos/as, colegas de trabalho, em grande parte porque estivemos desassistidos por aqueles a quem cabia o papel institucional e político de coordenar as ações nacionais de contingência da pandemia. A ciência, que eles negam, resiste... e projeta o futuro.


E já que relembro nossos fundadores, trago à luz Anísio Teixeira: “Há educação para alguns, há educação para muitos e há educação para todos. (...) A educação faz-nos livres pelo conhecimento e pelo saber e iguais pela capacidade de desenvolver ao máximo os nossos poderes inatos. (...) Democracia é, literalmente, educação” (Autonomia para a Educação, 1947).


Eis o nosso fazer: Educação. Para todos. Para a democracia. Por meio da democracia. Um constante (re-)pensar o Brasil como projeto. Um projeto de diversidade, inclusão e acessibilidade, com igualdade de gênero e de oportunidades, justiça social e preservação dos direitos e liberdades fundamentais. Que possamos fazê-lo com a autonomia que nos assegura a Constituição Cidadã.

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