OPINIÃO

 

Marlene Teixeira Rodrigues é doutora em Sociologia (PPGS) e mestra em Política Social (PPGPS) pela UnB. Possui pós-doutorado em Sociologia (UAB-Espanha) e em Democratização e Direitos Humanos (UNSAN-Argentina).Professora do Programa de Pós-Graduação em Política Social (PPGPS-SER/IH). Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher - NEPeM (CEAM/UnB) e da Refaps - Rede de Pesquisa em Política Social e Família (UFSC). Pesquisadora do Grupo de Trabalho - Lutas Anti-Patriarcais, Famílias, Gênero, Diversidade e Cidadania (Clacso). Professora aposentada do SER (IH/UnB). 

Marlene Teixeira Rodrigues 

 

Um lenço colorido comprido na cabeça, passos e voz firme a caminhar no corredor do Mezanino que separava os Departamentos de Serviço Social e Sociologia, no Minhocão da UnB. Esta é a primeira imagem de Lourdes que vem à cabeça naquele longínquo 1991, ou seria 92? Recém-chegada da Paraíba e lutando contra um câncer, ela retornara à UnB e a Sociologia e sua presença assertiva e luminosa, nos corredores que dividíamos, não deixava antever as lutas que travava então.

 

Assistente Social do DAC/UnB e mestranda em Política Social, logo tive a oportunidade de encontrá-la e conhecer mais de perto; ao ser inserida pelas mãos do prof, Mário Angelo Silva (SER), no Projeto de Saúde Comunitária “Kellogs”.

 

Desenvolvido na Regional Norte de Saúde do DF, sob a coordenação dos professores Mourad (DSC) e Cordón (ODT), passei a estar com Lourdes, nas reuniões em que se discutia as estratégias para atuação da UnB junto às populações e organizações sociais do Paranoá, Varjão e Vila Planalto. Ali tínhamos já preocupação comum: a Universidade inserida, aberta e atenta à dinâmica da sociedade e de suas organizações sociais e a importância da extensão universitária.

 

Lourdes se tornou não só orientadora de doutorado, mas amiga e uma das vigas mestras de minha constituição, como professora e cientista feminista; a partir da minha entrada no NEPeM (CEAM/UnB), a convite de Mireya Suarez, em fins de 1996. Em sala de aula, em orientações ou nas reuniões de pesquisa, em volta da grande mesa de reuniões do Núcleo, se mostrava incansável; com rigor e disponibilidade ímpar se debruçava sobre debates teóricos complexos; uma entrevista realizada; um roteiro em construção ou ainda, uma situação vivida em trabalho de campo. Não esqueço quando comecei o campo, na Delegacia, dela fazer questão de me acompanhar na primeira visitar e me apresentar como sua orientanda. Aliás este gesto se repetiria em inúmeros

 

eventos públicos que tivemos; até nosso último encontro, na abertura do Diálogos Genposs, no último mês de abril, quando mais uma vez, feliz e orgulhosa, destacou a presença de 03 gerações de orientandas. Nem sempre, porém o “seu jeitinho”, como às vezes dizia ela rindo e balançando a cabeça em reconhecimento ao “caráter forte”, produzia sorrisos - podia gerar ruídos às vezes, mas incapaz de obscurecer sua grandeza, lealdade e solidariedade. Era parceira e presente.

 

E foi assim que, ao longo desses anos, pudemos compartilhar projetos e ações e sonhos (porque não dizer) e rusgas no NEPeM; entre debates e embates, construindo; fazendo da nossa mesa de reuniões uma ÁGORA, em que o diálogo franco, o engajamento, o rigor e a camaradagem entre docentes, estudantes de graduação e pós- graduação, profissionais de OGs e ONGs e ativistas, comprometidas com a luta em defesa dos direitos das mulheres, constituiu e constitui o Norte. Os projetos coletivos que Lourdes colaborou para impulsionar e frutificar são sementes que, como ela irão permanecer.

 

Lourdes Presente!

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.