OPINIÃO

 

Ana Julieta Teodoro Cleaver é é graduada e mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. Atualmente é doutoranda em Ciência Política nesta Universidade. Ingressou na carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental da Administração Pública Federal em 2001, tendo atuado em diversos órgãos e políticas públicas.

Ana Julieta Teodoro Cleaver

 

O nascimento e o falecimento da Professora Lourdes Bandeira coincidem com fatos que resumem bem a sua vida: nasceu em 1949, ano de publicação de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, obra que inaugura a teoria crítica feminista; e, faleceu na semana em que celebramos o centenário de Paulo Freire. De fato, Lourdes dedicou sua vida à luta pela igualdade de gênero e ao ensino (sem nunca deixar de buscar aprender).


Na dedicação a essa sua vocação, conheci Lourdes, em 1997, no início da minha graduação em Antropologia Social, quando ingressei no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre as Mulheres – NEPeM/CEAM, levada pela Professora Mireya Suárez. As pesquisas realizadas, os debates organizados e as orientações coletivas tornavam o NEPeM um espaço particularmente efervescente de reflexão, de aprendizado e produção de conhecimento. O meu ingresso no NEPeM e a acolhida naquele grupo de pesquisa marcaram a minha vida com aprendizados e amizades sólidas, vivas até hoje, quase 25 anos depois. As Professoras Mireya e Lourdes me formaram intelectual e profissionalmente, e abriram caminhos nos quais eu ainda sigo e sobre os quais jamais consegui lhes dizer quão importantes foram em minha vida.


Após as pesquisas durante a graduação, Lourdes esteve presente em distintos momentos da minha carreira profissional, sempre como referência e instigadora de uma atuação qualificada, consciente e transformadora.


Em 2002, eu trabalhava na Secretaria dos Direitos da Mulher, do Ministério da Justiça, e, em uma tentativa de articulação da rede incipiente de proteção às mulheres em situação de violência, realizamos o I Encontro Nacional de Casas Abrigo, em Maceió/AL. Lourdes foi convidada para realizar a conferência de abertura do evento. Depois, seguiu participando dos Grupos de Trabalho, contribuindo grandemente para com o debate sobre a estruturação e a atuação da rede.


Anos depois, em 2013, quando eu retornava de uma temporada vivendo no exterior, Lourdes solicitou, ao órgão público que gerencia a carreira da qual sou parte, minha alocação na Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM, da Presidência da República, onde ela era Secretária Executiva. Sob sua chefia e orientação rigorosa, organizamos as duas primeiras edições do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (2013 e 2014) – compilação de estatísticas oficiais relativas a diferentes temáticas (autonomia econômica e trabalho, saúde, educação, violência etc.) com o recorte de gênero e raça.


O engajamento na discussão sobre as políticas públicas para as mulheres fez com que nos reencontrássemos no âmbito de algumas atividades da CPI do Feminicídio, já neste período pandêmico. Lourdes contribuiu como especialista e estava particularmente feliz com a próxima publicação de seu livro sobre o tema, resultante de suas pesquisas e reflexões de anos.


Uma de nossas últimas trocas foi sobre o meu atual projeto de doutorado. Sua revisão tão atenta e rigorosa demonstrou, uma vez mais, a sua vocação e dedicação como professora. O meu projeto leva esse aprendizado e inspiração de tantos anos compartilhados no engajamento e na atuação nas políticas públicas para as mulheres.


Com isso, só poderia encerrar este texto expressando a mais profunda gratidão à Professora Lourdes.

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