OPINIÃO

Dioclécio Campos Júnior é professor emérito da Universidade de Brasília, doutor em Pediatria e membro titular da Academia Brasileira de Pediatria.

 

 

Dioclécio Campos Júnior

 

A nação brasileira não pode mais imaginar que permanecerá "deitada eternamente em berço esplêndido". É um sonho encantador do hino nacional porque o país possui ótimas condições territoriais para cultivar suas maravilhas, embora jamais o haja feito. Por isso, esse berço não saiu da ilusão.


Os desafios que se contrapõem a essa histórica divagação nunca tiveram a dimensão da atual pandemia, que abala a sobrevivência do país. Com efeito, o contágio da população brasileira pelo coronavírus acentuou ainda mais a degradação social a que a nação vem sendo exposta há longo tempo. Por isso, não faz sentido considerar os danos da pandemia como causa única de toda a nossa degradante desigualdade social, que tem aumentado ao longo da história do país.

 

No destrutivo cenário pandêmico, várias questões que precisariam ser bem abordadas e devidamente discutidas em favor da sociedade são desprezadas, quando não ignoradas. Um dos temas é o fato de que o Brasil faz parte da comunidade global, situação que se tornou bem evidente posto que seu povo também foi contaminado pela pandemia. Esta perspectiva poderá contribuir para os avanços que o país requer, embora seja minimizada pelos seus governantes. Outro tema a ser ressaltado é a grave injustiça da desigualdade social do país, uma das mais elevadas do mundo, que desvaloriza a nação brasileira.


Por tudo isso, estamos condenados a aguardar prioritariamente a reversão da pandemia. Ocorrerá como repercussão das ações globais adotadas universalmente, embora nem sempre aceitas pelos governantes e respectivas populações. No nosso caso, os malefícios humanos da citada injustiça estarão ainda mais acentuados após o fim da pandemia.


As medidas a serem adotadas para desfazer a desigualdade social em nosso país devem, pois, ter início neste período que antecede a erradicação da doença que já eliminou a vida de mais de 600 mil de habitantes. Para tanto, não dá mais para se desprezar o que está estabelecido na Constituição Brasileira. De fato, o artigo 227 do texto constitucional define como prioridade absoluta o investimento na saúde e educação da criança e adolescente. Nada impede que tal providência seja desencadeada com o objetivo de incluir a energia potencial das novas gerações como ingrediente insubstituível para a construção de uma sociedade humanista, altruísta e igualitária. É o único caminho respeitoso e respeitável para a implantação de uma verdadeira democracia no Brasil.


Nesse sentido, seria recomendável a criação de um organismo interestadual, público-privado, que estruturaria as lideranças representativas de cada região e trabalharia voluntariamente, por meio do diálogo construtivo. Elaborariam, assim, um projeto de educação e saúde para a infância e adolescência, marcado pela qualidade das ações educativas e pelo livre acesso de alunos dos diversos níveis econômicos que caracterizam a desigualdade social referida. Como disse o ex-senador Cristóvão Buarque: "A mesma escola para os filhos do patrão e dos empregados". Cabe também ressaltar que saúde e educação são inseparáveis. Em outras palavras, sem saúde não há educação; e sem educação não há saúde.

 

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Publicado originalmente no Correio Braziliense em 08/09/2021

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