OPINIÃO

Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Graduado em História, pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), mestre em História e doutor em História das Relações Internacionais, ambos pela UnB. Atua nas áreas de História, Relações Internacionais e Segurança Internacional, nos temas: em América Latina e África. 

Pio Penna Filho 

 

Muitas lições ficaram. Uma delas bate de frente com a arrogância humana em acreditar que tudo pode.


Aparentemente iniciamos um processo de convívio com o coronavírus. Embora não se possa afirmar com certeza que será possível conviver de forma mais equilibrada, é inegável que as campanhas de isolamento social e vacinação estão surtindo efeitos. No caso do Brasil, por exemplo, o número de mortos diários em decorrência desse vírus vem caindo sistematicamente. O mesmo ocorre em outros países.


É claro que cautela é sempre bom. A gripe espanhola, por exemplo, quando do início de sua disseminação (no começo de 1918) parecia ser apenas mais um tipo de gripe sem grandes consequências. Entretanto, após alguns meses, ocorreu uma grande transformação que fez com que o vírus se tornasse brutalmente mortal.


Muitas previsões foram feitas no começo da pandemia do coronavírus. Várias delas diziam que o mundo jamais seria o mesmo. Que a humanidade sairia melhor depois da pandemia, mais disposta a se 'humanizar', e que passaria a tratar os semelhantes de uma forma diferente.


Nada disso aconteceu na escala imaginada pelos 'videntes' do mundo pós-pandemia. A 'humanidade' não melhorou em nada. O ser humano continua sendo egoísta como sempre foi. Muitas das atividades econômicas e comerciais que foram 'condenadas' e que se dizia jamais voltariam, continuam existindo, mesmo que com alguma adaptação. É o caso, por exemplo, dos bares e, sobretudo, dos restaurantes de tipo self-service, muito comuns em praticamente todo o Brasil.


Em qualquer cidade brasileira os bares voltaram a funcionar e estão a pleno vapor, como se nunca tivesse existido qualquer tipo de pandemia e como se o vírus já não existisse mais. O comércio e o turismo, dois setores muito afetados pela presença do vírus, continuam existindo e se recuperando. As pessoas estão cada vez mais vivendo numa situação de normalidade.


É certo que a pandemia ainda não acabou e que muita coisa de ruim ainda pode acontecer. Mas, até a presente data, o que se observa é a diminuição, em escala global, do nível de contaminação e, principalmente, da quantidade de mortos pelo coronavírus. Para tanto, é claro que o desenvolvimento de vacinas foi fundamental. Além disso, os médicos passaram a entender melhor o funcionamento do vírus e aperfeiçoaram o tratamento da doença.


A expansão da pandemia foi contida porque houve recursos financeiros, científicos e tecnológicos e grande empenho de muitas pessoas que se dedicaram a pesquisar e decifrar os mecanismos de ação do coronavírus. Apesar de sua extensão, com aproximadamente 5 milhões de mortos espalhados pelo mundo, foi possível dar uma resposta efetiva ao vírus.


Muitas lições ficaram desde o início da pandemia. Uma delas bate de frente com a arrogância humana em acreditar que tudo pode. Não, não pode. Somos humanos e, portanto, limitados pela própria natureza. Outras pandemias certamente virão. E muitas delas provocadas por distúrbios ecológicos que somos os principais responsáveis.

 

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Publicado originalmente em A Gazeta - MT em 10/09/2021

 

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