OPINIÃO

 

Pollyanna Dornelas Pereira é graduada em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia. Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia, regional DF. Médica assistente do departamento de Unidade Saúde da Mulher do HUB-UnB.

Pollyanna Dornelas Pereira

 

Nenhuma parte do corpo é tão multifuncional quanto as mamas. Elas são símbolo de feminilidade, de poder, de beleza, de prazer e até de protesto. Elas nos lembram da nossa condição de animais e até nos categorizam em uma classe dentro do reino animal- mamíferos- ganhando um olhar tenro e inocente quando estão cumprindo o seu papel de produzir o sustento para a continuidade da espécie. Apesar de todo esse poder, elas podem adoecer e em uma frequência muito alta.


Para se ter uma idéia, uma em cada oito mulheres terá câncer de mama ao longo de sua vida. Segundo dados do Inca, são esperados mais de 66 mil novos casos de câncer de mama anualmente no Brasil e em 2020, o câncer de mama ficou em primeiro lugar como o câncer mais comum no mundo.


Se descoberto em fases iniciais, as chances de cura são altas, chegando a mais de 90%.Trabalhos científicos mostram uma redução da mortalidade de 30 a 50% no grupo de mulheres que realizam a mamografia periodicamente. Por isso,a importância da sua realização após os 40 anos de idade, anualmente.


O câncer de mama não tem uma causa única, os fatores de risco são vários: obesidade, sedentarismo, consumo excessivo de álcool, ter o primeiro filho após os trinta anos ou não ter filhos e temos também os fatores que não conseguimos controlar, como a primeira menstruação muito cedo, antes dos 12 anos ou a menopausa muito tarde, após os 55 anos de idade e ter casos de câncer de mama na família.


E o que podemos fazer pra diminuirmos o nosso risco? Atividade física e uma boa alimentação estão no topo da lista!
O tratamento para o câncer de mama melhorou muito nas últimas décadas. No passado, as cirurgias eram extensas, mutilantes e hoje evoluímos para cirurgias que muitas vezes podem conservar as mamas ou quando é necessária a mastectomia, temos recursos para realizar a reconstrução. Surgiram medicamentos com menos efeitos colaterais e drogas com alvos específicos.

 

Outubro é o mês rosa para lembrarmos da prevenção do câncer de mama. Monumentos ao redor do mundo se colorem de rosa, usamos lacinhos nas redes sociais, nos hospitais e consultórios. Tudo isso me traz uma reflexão: será que estamos no mesmo barco no tratamento do câncer de mama? E a resposta é NÃO! A cada ano, nos congressos médicos, são apresentadas novidades no tratamento, surgem drogas mais eficazes, opções que prolongam a vida daquelas que infelizmente não mais almejam a cura, mas sim o controle da doença e tudo isso tem um custo altíssimo, acessível a uma fatia pequena da população.


E no nosso SUS ainda estamos lutando pelo acesso: à mamografia, a teste genéticos, a tratamentos em tempo hábil. Melhoramos muito, temos leis que nos garantem que o tratamento deve acontecer dentro de 60 dias após o diagnóstico, leis que dão o direito a reconstrução imediata daquelas que não puderam conservar suas mamas, mas ainda falta muito.


Precisamos urgentemente de uma discussão honesta pela otimização dos gastos públicos em saúde e pela equidade de acesso mundo afora.


Não desanimemos!

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