OPINIÃO

Marcus Tanaka de Lira é professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução (LET/UnB). Diretor do Instituto Rei Sejong Brasília (IRS-BSB) e líder do grupo de pesquisa Estudos Asiáticos do NEASIA/CEAM. Com pós-doutorado na Universidade Hankuk de Estudos Estrangeiros (2023), pesquisa línguas do nordeste asiático, como coreano e japonês.

Marcus Tanaka de Lira 

 

Há alguns anos, você deve ter visto um clipe de um simpático moço de blazer dançando como se estivesse a cavalo. Depois, certamente viu cenas de uma família cheia de malandragem arranjando bicos e lutando com a chuva. E, agora, sua internet ganhou tons de verde e rosa com vídeos de gincaneiros sob o escrutínio de bedéis armados. Tudo isso, diga-se, vem da Coreia. Mas, por que vemos tanto da Coreia do Sul hoje, e o que a UnB tem com isso?

 

Vejamos em contexto: a música Gangnam Style, em que o rapper P.S.Y popularizou seus passos equestres, por anos foi o vídeo mais assistido do YouTube – ocupando a liderança de visualizações entre 2012 e 2017. O filme da família se metendo em trapalhadas, Parasita, ganhou o Oscar de “Melhor Filme de 2019” em pé de igualdade com as produções locais. E o seriado Round 6, aquele dos jogos, é hoje o mais visto na história da plataforma Netflix.

 

Essa popularidade veio de um impulso de preservação. Após uma grave crise econômica no fim do século passado, a indústria cultural coreana via o risco de ser dizimada pelas importações japonesas. A solução encontrada pelo governo do então presidente Kim Dae-Jung foi o Plano de Suporte para Desenvolvimento da Indústria Hallyu, ou “onda coreana”. Entre os motivos apontados, estava o de que um filme como o hollywoodiano Jurassic Park rendia mais do que a venda de 1,5 milhão de automóveis Hyundai. Além de, é claro, alcançar um público maior.

 

O investimento compensou. Músicas, seriados e filmes coreanos começaram a atravessar fronteiras e, com o tempo, os artistas se adaptaram cada vez mais ao mercado internacional. Já em 1999 o filme Shiri, financiado em parte pela Samsung, foi o primeiro sucesso de bilheteria, rendendo U$ 11 milhões. No caso das músicas, agências de entretenimento investiram em novos talentos, os grupos do chamado K-Pop – geralmente um amálgama de estilos estrangeiros como electro house e R&B. A internacionalização é tal que f(x), Twice e Super Júnior frequentemente têm músicas produzidas por suecos ou noruegueses. A presença estrangeira chega até mesmo aos membros, como no quarteto coreano-tailandês-neo-zelandês Blackpink, que hoje está até em trilha de novela da Globo.

 

Estima-se hoje que só o grupo BTS já renda bilhões de dólares à economia coreana, com o Ministério da Cultura, Esportes e Turismo local medindo anualmente o “efeito hallyu” para medir o impacto no mundo. Impacto esse vindo de produtos como seriados românticos, que nem Hometown Cha Cha Cha, ou aterrorizantes, tal qual Hellbound, que em novembro foram sucessos de audiência. Isso sem contar os filmes!

 

Vale lembrar que o “Plano Hallyu” levou não só a um investimento governamental com foco na exportação, mas também à criação de centenas de departamentos de indústria cultural em universidades do país. E, com a difusão da indústria criativa coreana, era de se esperar que houvesse um aumento da demanda pelo ensino da língua e da cultura. Aí entram a Universidade de Brasília e o Instituto Rei Sejong Brasília.

 

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