OPINIÃO

Wladimir Ganzelevitch Gramacho é doutor em Ciência Política. Coordenador do Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública (CPS) e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.

Wladimir Gramacho

 

Estudo sobre covid-19 mostra padrão nos grupos e páginas com mais de 50 mil seguidores.


A iminência das eleições gerais no Brasil, cada vez mais presentes no noticiário político, apresenta desafios diferentes e combinados para o combate à circulação de conteúdo desinformativo na internet. Esses problemas são especialmente relevantes num país que, quase 2 anos depois do início da pandemia de covid-19, ainda se vê às voltas com notícias falsas sobre vacinas e tratamentos inexistentes.


Contra essas fake news, agências de fact-checking se organizaram -muitas vezes em parceria com as próprias mídias sociais, mas seu alcance ainda é bastante limitado, sobretudo em comparação ao conteúdo desinformativo. É o que mostra estudo assinado por Raquel Recuero e outros colegas da Midiars Research Lab, recém-publicado na revista International Journal of Communication.


A pesquisa analisou 568 links (incluindo o conteúdo desinformativo e a versão corrigida pelas agências de checagem) que circularam no Facebook em páginas e grupos públicos brasileiros com mais de 50 mil membros ou seguidores, de janeiro a agosto de 2020, e que dissessem respeito à pandemia de coronavírus.


O principal resultado mostra que a polarização é assimétrica. Os grupos e páginas de direita foram responsáveis por cerca de 93% do compartilhamento de informações falsas, enquanto 54% do compartilhamento de checagem de informações vieram de grupos e páginas de esquerda (contra 29% vindos de grupos e páginas de direita).


Entre os grupos e páginas que compartilham tanto a desinformação quanto a checagem, 90% são de direita, mas há muito mais postagens (quase o dobro) nos grupos e páginas de direita que apenas publicam desinformação. Além disso, estudos anteriores já indicaram que a publicação de informação checada, nesses grupos, é utilizada principalmente como alvo de críticas e piadas.


Outras conclusões do trabalho que merecem destaque são:


entre as páginas e grupos que compartilharam tanto a desinformação quanto a checagem, as publicações do 1º tipo foram muito mais frequentes (média de 10,6 postagens ante 2,04).


em média, cada link de desinformação foi postado duas vezes mais pelos grupos e páginas que só postam desinformação, em comparação com a postagem de links de fact-checking pelos grupos e páginas que só postam conteúdo de checagem (e não de desinformação) no Facebook. Ou seja, a capacidade de postagem dos grupos dedicados a desinformar é o dobro da capacidade de postagem dos grupos interessados em publicar correções. Já nos grupos e páginas que publicam tanto conteúdo desinformativo quanto conteúdo de checagem, cada link de fact-checking foi compartilhado 3,17 vezes, enquanto cada link de desinformação foi compartilhado 20,94 vezes.


os links com a desinformação desmentida circularam em menos de 8% dos grupos e páginas do Facebook que compartilharam as notícias falsas. Além disso, postagens com conteúdo falso foram 3 vezes mais compartilhadas nessa rede social que as publicações de fact-checking.

 

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Publicado originalmente no Poder 360 em 18/01/2022.

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