OPINIÃO

 

Susana Xavier é técnica administrativa em Educação; especialista em Gestão de Pessoas pela UnB; especialista em Gestão de Pessoas na Administração Pública pela Enap, aluna especial do mestrado em Direitos Humanos do Ceam; atual diretora da Diversidade.

Susana Xavier

 

Louise estaria hoje com 25 anos, provavelmente graduada, talvez seguindo carreira acadêmica, fazendo pesquisas, contribuindo para melhorar a sociedade, talvez formando a sua própria família, ou quem sabe gerenciando pessoas numa empresa privada, poderia está viajando buscando objetos em outras culturas, ela poderia qualquer coisa, em qualquer lugar, se não fosse mulher.

 

Na manhã do dia 10 de março de 2016, propagou-se na UnB a notícia de um corpo de mulher encontrado num matagal, próximo ao Campus. As notícias corriam rápido, de uma para outra, a garota havia sido dopada e envenenada dentro de um laboratório da UnB e o motivo foi um “NÃO”, uma pequena e simples expressão, de não desejo, não vontade, não querer. Uma negativa inconteste, clara e objetiva, que deveria ser um direito a qualquer pessoa, mas numa sociedade patriarcal, na qual as mulheres continuam lutando pelo direito aos próprios corpos, ela soa como uma ofensa imperdoável para a estrutura machista.

 

Todo dia morrem várias; Louises, Marias, Angelas, Lucianas, Patrícias (...), perdemos uma a cada 06 (seis) horas, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. As tragédias não têm hora e nem local definido, pode ser no ambiente doméstico, na rua e até na universidade, não há local seguro quando a questão é gênero, toda mulher está suscetível, assim como todo homem pode vir a ser um agressor.

 

A construção social que determinou os papéis e a sobreposição de um dominante e a outra dominada expõe historicamente as mulheres à condição de vulnerabilidade e insegurança, e as consequências desse fenômeno sinistro destruiu não apenas a vida da estudante Louise, certamente destruiu os sonhos de sua família e ainda causa uma dor profunda que talvez nunca possa ser reparada. Mas do outro lado, está também a família de Vinicius, que teve que seguir consciente de que havia criado um feminicida e que o feito não tem como ser reparado, nem para ela e nem para ele, são marcas que vão impactar para sempre.

 

O combate ao machismo que mata, violenta e destrói, perpassa a família, as escolas, o estado e as religiões, é necessário, portanto, destruir as hierarquias sociais, e isso inicia na primeira infância, numa educação para o convívio e o respeito a todas as diferenças, objetivando o rompimento da supremacia de um humano sobre o outro.

 

Louise está presente! Mas apenas no imaginário. Ela se foi, outras se foram, outras se vão, todos os dias, e se não houver compreensão e seriedade no tratamento das questões de gênero, milhares irão e com elas vão os sonhos, as perspectivas e o futuro e ficam as dores e o fracasso de uma sociedade cuja política central é definir as cores das vestimentas para meninas e meninos e ditar regras conservadoras de comportamento.

 

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