OPINIÃO

Sílvia Ester Orrú é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Aprendizagem e Inclusão (LEPAI). Graduada em pedagogia, mestre e doutora em educação com pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2018 foi vencedora do III International Essay Award in Education and Learning com o livro O Re-inventar da Inclusão: os desafios da diferença no processo de ensinar e aprender, concedido em Paris pela Global Knowledge Academics (GKA) que reconhece a excelência em investigações da área educativa.

Sílvia Ester Orrú

 

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo foi criado em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para informar a população sobre as singularidades das pessoas com autismo e combater o preconceito e a discriminação em relação ao Transtorno do Espectro Autista (TEA).

 

O TEA não define um ser humano. Autismo não é adjetivo, não é insensibilidade, não é uma lista de déficits. Autismo é uma condição que faz parte da subjetividade de muitas pessoas, independentemente do gênero, etnia, crença ou classe social e se manifesta de diferentes modos por todo o planeta.

 

É notório o avanço nas pesquisas acerca do TEA, inúmeros pesquisadores têm se dedicado ao entendimento sobre a origem desta condição que constitui pelo menos 1% da população planetária, cerca de 70 milhões de pessoas. Outros se dedicam ao desenvolvimento de fármacos e tratamentos terapêuticos para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Muitos são os cursos ofertados para a disseminação do conhecimento sobre os critérios diagnósticos para o TEA, bem como para o aprendizado de métodos para o ensino escolar. Ainda há os que estão envolvidos em movimentos sociais de luta por políticas públicas para a inclusão e garantia de direitos.

 

Apesar da Constituição Federal de 1988 e de todo acervo nacional e internacional de leis e políticas pró-inclusão, foi a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394, de 1996, que crianças e adolescentes com autismo tiveram maiores oportunidades de acesso à educação e, também, direito de permanecerem ocupando seus espaços como estudantes durante toda a educação básica e romperem fronteiras rumo à educação superior. A cada ano ouvimos novos relatos de jovens com autismo ingressando na universidade.

 

Entretanto, há muitas outras crianças, adolescentes, jovens e adultos com autismo que sequer têm a oportunidade de frequentar um parque próximo a sua casa. O TEA nível 3 compromete gravemente o desenvolvimento e é uma dura realidade na vida de muitos. Investimento em pesquisas para tratamentos medicamentosos modernos, bem como no Sistema Único de Saúde (SUS) para que essas pessoas alcancem o direito à vida digna a partir de profissionais da saúde com formação de excelência para seu atendimento, é medida crucial a ser encarada pelas esferas políticas e de governança do país. Inclusive, entendendo que o diagnóstico do autismo é flutuante, não é estático e fixo, o acesso a um tratamento adequado às suas especificidades pode possibilitar uma melhora no desenvolvimento desta pessoa, de modo a oportunizar sua inclusão, reduzindo a solidão familiar da nefasta segregação social.

 

O desafio das sociedades complexas é encontrar formas de conviver e viver as diferenças humanas. Erradicarmos os processos hostis de exclusão deve ser nosso objetivo. Acolhermos as pessoas com TEA e seus familiares com uma escuta sensível é ato importante para transformarmos o mundo em um lugar melhor para todas as pessoas viverem.

 

 

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