OPINIÃO

Tatiane Duarte é membra da Comissão da Organização do #8MUnB2022, é militante feminista e mãe do Dante. Doutora e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UnB. Atualmente é Pesquisadora e Docente Colaboradora do NePeM/Ceam e também realiza assessoria e consultoria de organizações da sociedade civil em temáticas como religiões no espaço público, laicidade, direitos das mulheres, democracia, conservadorismos religiosos na política.

Tatiane Duarte

 

 “Se celebrar é aprender, mudar, fazer melhor e junto, não tenho mais dificuldade para conjugar o verbo. Para celebrar a esperança feminista, é preciso se juntar a outras que nos cutucam fundo onde o patriarcado persiste em nós: o isolamento solitário nos afugenta da transformação. Todo encontro de celebração é um momento de existir para romper o patriarcado em nós e nas outras”.
 (Débora Diniz, Esperança Feminista, 2022, p. 190).

 

Findamos mais um 8M, marco histórico das mulheres em todo mundo para saudar quem nos antecedeu, memoriar nossas conquistas e verbalizar o que ainda nos é recusado. Em nossa Universidade de Brasília temos construído essa agenda de forma coletiva entre docentes efetivas e substitutas, técnicas administrativas, profissionais terceirizadas, estudantes de pós-graduação e de graduação, colaboradoras.

 

Reunidas desde dezembro de 2021, debatemos sobre as desigualdades e exclusões que ainda permanecem em nossa Universidade e na sociedade, mas também lembrar daquelas que já passaram e cujos feitos nos permitiram estar aqui hoje. Nossos passos vêm longe! Não nos esqueçamos!

 

E para dignificar as caminhadas de outrora estivemos engajadas para avaliar os passos trás, mas esperançar e construir outros caminhos, permitidos e abertos, nos quais todas e todes nós, desde as estudantes de graduação até as professoras eméritas e ocupantes de cargos na administração superior, possamos juntes trilhar nesse espaço que deveria ser possível para todas e todes e isento de quaisquer violações de direito.
Diante da honra da memória e da urgência de novas ações, nos comprometemos com mais um 8 de Março, não um dia, um mês para celebrar e reivindicar que todos os dias sejam possíveis para as mulheres segundo suas individualidades e dignificando nossas diversidades.

 

Nesse ano, afirmamos a construção, também coletiva, da ““Política de enfrentamento à violência de gênero contra as mulheres no âmbito da Universidade de Brasília”. Marcamos, portanto, a necessidade de um pacto coletivo, ético como Universidade de Brasília contra assédios e violências sexuais, de gênero e também raciais e discriminatórias que interditam direitos não apenas às mulheres na Universidade de Brasília, mas a todes que ainda precisam reivindicar dignidade por sua própria existência.

 

Nosso tema – Políticas de Gênero na UnB: trajetórias, desafios e perspectivas: UnB 60 anos – marca a importância social e acadêmica de nossa universidade para o país e para a sociedade brasileira, mas aponta caminhos necessários para a superação de desigualdades e para a afirmação em nossa universidade da igualdade de gênero interseccionada com raça, etnia e classe social.

 

Iniciamos historicizando os processos de lutas e de conquistas das mulheres, dentro e fora da UnB, fazendo memória àquelas que nos foi retirada, brutalmente, pela misoginia. Conclamamos, assim, outros 60 anos para nossa universidade, de justiça e igualdade, de respeito às diversidades que transitam pelos espaços universitários, sejam elas corpos prenhos, carregando crianças, trans, pretos, periféricos, status quo, lésbicos, militantes, passantes, ficantes. Há, portanto, que se ter coragem para concretizar as ações necessárias para que outros 60 anos sejam feitos, por cada uma de nós, em prol de cada uma de nós, para que todes sejam parte de nossa Universidade.

 

Apesar das inúmeras dificuldades de manter um mês de atividades, logramos finalizar nosso março das mulheres com a entrega oficial da “Política de enfrentamento à violência de gênero contra as mulheres no âmbito da Universidade de Brasília” à gestão superior. E com a conferência de encerramento, mas que abre caminhos, “A luta continua: perspectivas da Política de enfrentamento à discriminação e à violência de gênero e sexual no âmbito da Universidade de Brasília” que pauta a urgência da implementação dessa política.

 

Exaltamos em cada atividade realizada, nossa diversidade, publicamos reivindicações, feitos, projetos, pesquisas, reflexões, docências, devolutivas e conversações com a sociedade, verbalizadas oralmente e sinalizadas em Libras por todas as mulheres que fazem a Universidade de Brasília. Sabemos que ainda não habita em nossa Universidade todas as representatividades que somos! Mas celebremos Sueli Carneiro, mulher negra, reconhecida Doutora Honoris Causa, em nosso março das mulheres, pela UnB.

 

Celebremos cada uma de nós que se engajou para compor a agenda como mães, gestoras, ocupantes de cargos políticos, cientistas, educadoras, autoras negras, mulheres indígenas e com deficiências, graduandes, pós-graduandes, extensionistas, técnicas administrativas, psicólogas, cineastras, trans e travestis, exatas, humanas, lésbicas, meninas e jovens, seniores, camponesas, pretas, ativistas, artistas, pesquisadoras, trabalhadoras e tantas de nós, multiplicadas.

 

  Reconhecemos os legados de quem nos deixou e que seremos um dia as ancestrais daquelas que virão. Celebremos mulheres da UnB e façamos nossa universidade mais plural não de matrículas ou inscrições, mas de pessoas com sonhos e com direitos, façamos dela livre de quaisquer violações e cerceamentos. Façamos! A UnB como acolhida de igualdade, dignidade e respeito e morada para todes, todas e todos nós depende de nosso compromisso hoje e agora. Sigamos irmanadas...

 

“[...]. A noite não adormecerá
jamais nos olhos das fêmeas
pois do nosso sangue-mulher
de nosso líquido lembradiço
em cada gota que jorra
um fio invisível e tônico
pacientemente cose a rede
de nossa milenar resistência”.
(Conceição Evaristo, A noite não adormece nos olhos das mulheres, 2017)

 

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