OPINIÃO

Fabiana Pirani Carneiro é docente da Faculdade de Medicina da UnB. É graduada em Medicina pela Universidade Federal de Goiás, tem residência médica em Anatomia Patológica no Hospital do Câncer – ACCamargo, residência médica em Dermatopatologia e mestrado em Patologia pela Universidade de São Paulo, doutorado em Ciências Médicas pela UnB e título de especialista em citopatologia pela Sociedade Brasileira de Citopatologia. Desenvolve projetos que visam identificar a presença de HPV em mulheres jovens vacinadas ou não, e correlacionar com lesões ginecológicas.

Fabiana Pirani Carneiro

 

O câncer de colo de útero é o terceiro em incidência entre as mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer. Ele é geralmente causado pelo vírus HPV (Vírus do Papiloma Humano) e não apresenta sintomas em seus estágios iniciais. Por isso é tão importante realizar os exames ginecológicos preventivos de rotina, como o Papanicolaou. Outras abordagens de saúde pública como a vacinação de pré-adolescentes também têm se mostrado bastante eficazes no combate à disseminação do HPV, e, portanto, da chance de desenvolvimento do câncer de colo de útero.

 

O HPV, na verdade, constitui uma família de subtipos virais, alguns mais relacionados ao aparecimento de câncer (de alto risco oncogênico como HPV16 e HPV18) e outros não-relacionados ao aparecimento de tumores (de baixo risco oncogênico, como HPV6 e HPV11). A infecção das células do colo uterino ocorre pelo contato sexual, e em geral, além de ser silenciosa, pode ser resolvida pelo próprio sistema imune do hospedeiro. No entanto, caso o vírus não seja eliminado, poderá entrar nas células epiteliais do útero e mediar a proliferação descontrolada dessas células. Em tempo, nota-se que o HPV pode também causar, ainda que com menor incidência, câncer de pênis, de vulva, anal e da cavidade oral e da garganta Os subtipos de HPV de baixo risco, apesar de não ocasionarem câncer, são os responsáveis pelo aparecimento de “verrugas” que podem se concentrar na região ano-genital, mas também podem aparecer na boca e nas mãos. Essas lesões podem ser removidas por um médico, porém a infecção, uma vez instalada, é incurável e poderá reaparecer sempre que houver uma queda na imunidade do hospedeiro.

 

A incidência de câncer de colo de útero sofreu considerável declínio em países onde a política de vacinação em massa foi estabelecida há mais tempo, e acompanhou a evolução etária das primeiras pessoas vacinadas. Assim, em países como Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido e Austrália, o câncer de colo de útero desapareceu da lista dos cinco mais incidentes. Há que se notar ainda que práticas complementares também auxiliam na diminuição da disseminação do HPV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como uso de preservativos.

 

Existem hoje no mundo, três tipos de vacinas: bivalente (contra 16 e 18), tetravalente (contra 6, 11, 16 e 18) e nonavalente (contra os 4 anteriores, acrescidos de 31, 33, 45, 52 e 58). No Brasil, o SUS disponibiliza a tetravalente, para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, além pessoas de 9 a 26 anos de idade se forem pacientes imunossuprimidos, ou pacientes convivendo com HIV/AIDS. Apesar da disponibilidade da vacina nona-, é a tetravalente que continua sendo mais utilizada no mundo. O impacto do uso dessas vacinas na população global ainda está em estudo.

 

Nesse sentido, temos um projeto para identificar 35 tipos HPV (e também outras ISTs) em amostras de pacientes submetidas ou não à vacinação. Será interessante conhecer os tipos mais prevalentes no DF, bem como interpretar dados clínicos à luz dessa informação.

 

 

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