OPINIÃO

Christina Maria Pedrazza Sêga é professora aposentada da Universidade de Brasília e doutora em Ciências da Comunicação (Universidade Nova de Lisboa).

Christina Maria Pedrazza Sega

 

A origem do vinho perde-se ao longo da história das civilizações. Muitos atribuem seu nascimento por volta de 6.000 a.C. Os gregos celebravam suas festas regadas a essa bebida, em homenagem ao deus Dionísio. Da Grécia, o vinho foi para Roma tendo como homenageado o deus Baco. Daí o surgimento dos bacanais, sendo seus participantes os bacanas, aqueles que faziam uso abusivo do vinho nas festividades, acompanhadas de uma exagerada liberação sexual.


O vinho também fez parte da vida de Jesus em seu milagre nas Bodas de Caná. Consta na Sagrada Escritura que “o bom vinho alegra os corações dos homens”. De lá para cá, ele chegou até nossas mesas em celebrações das mais diversas. Fernando Sabino, um dos grandes nomes da literatura brasileira, disse uma vez: “Cristo não consagrou a água, o leite ou a Coca-Cola; consagrou o pão e o vinho como alimento do corpo e do espírito”.


Com uma variedade de marcas, preços e qualidade, o vinho faz parte do nosso cotidiano. O mais impressionante é a quantidade de marcas consagradas. Santas marcas!


Certo dia, procurando bons vinhos para comemorar a Páscoa com a família, deparei-me com a diversidade dessa bebida cujos nomes fazem reverência a algumas santas do catolicismo, tais como: Santa Helena, Santa Carolina, Santa Luz, Santa Paula, Santa Rita, Santa Júlia, entre outras. Até mesmo meu nome encontrava-se na estante do estabelecimento como uma santa marca. E, para minha surpresa, era uma das mais caras.


No mês de junho são celebradas datas festeiras para três santos queridos dos brasileiros: Santo Antônio, São João e São Pedro. Porém, nenhum deles foi lembrado pelos vinicultores e empresários. Pesquisas mostram que os homens bebem mais que as mulheres por terem uma tolerância alcoólica maior e, mesmo assim, as mulheres, ou melhor, as santas foram as mais homenageadas. Por que será? Tendo sido professora na área de publicidade, esse fato me chamou a atenção já que vivemos em uma sociedade consumida pelas marcas.


É bastante curioso o fato de eu não ter encontrado os nomes dos deuses Dionísio e Baco rotulando vinhos nacionais ou estrangeiros. Será que foram esquecidos pelos fabricantes ou estes não acharam tais nomes atraentes para a publicidade da bebida? Possivelmente estejam muito bem guardados para os apreciadores mais exigentes.

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