OPINIÃO

Enrique Roberto Argañaraz é professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Doutor pela UnB em Imunologia e Genética Aplicadas.

Enrique R. Arganaraz

 

A “Retrocausalidade” refere-se a inversão da causalidade, isto é, quando a ocorrência de um fenômeno precede - afeta a sua causa. Isto nos conduz a perguntas, tais como, O que ocorre no futuro pode afetar o presente? Ou pode o presente afetar o passado?


Sob um ponto de vista filosófico o impacto na visão da realidade da inversão da “flecha do tempo” através da retrocausalidade representa uma contradição em si mesma, dando origem a um paradoxo físico. Para abordar este paradoxo devemos introduzir a visão quântica da matéria, introduzida primeiro por De Broglie e mais tarde confirmada por Davisson e Germer. Diversos experimentos têm mostrado inequivocamente a natureza dual da matéria, a qual se pode comportar como onda ou partícula, dependendo de como o experimento é realizado, isto é, o ato de medição determina se o fóton em um interferômetro passa apenas por um braço (como uma partícula) ou ambos simultaneamente (como uma onda). Isto levou ao físico John Wheeler a conceber um experimento hipotético denominado de “experimento de escolha atrasada”, mediante o qual a decisão de determinar o comportamento do fóton depois que este tenha entrado no interferômetro determinaria seu comportamento pregresso.


Embora muitos experimentos tenham mostrado dualidade partícula-onda, incluindo esquemas de escolha retardada, o experimento de Kim e colaboradores publicado na Phys. Rev. Lett. (2000), chamado de delayed choice quantum eraser ou “apagador quântico de escolha atrasada” mostrou, a priori, que tal escolha afetaria a “história pregressa” do fóton, isto é, eventos futuros podem influenciar resultados passados. Neste engenhoso experimento realizado com fótons entrelaçados, foi demonstrado que o fato de conhecer ou não o caminho percorrido por um fóton, isto é, saber ou não, por qual fenda o fóton atravessou, determina que ele apresente um comportamento particulado ou ondulatório. O bizarro deste experimento é que o conhecimento ou não, pela fenda que o fóton atravessou, acontece só depois que o comportamento do fóton é determinado.


Mais recentemente em uma publicação na Nat. Phys. Lett. (2015), a retrocausalidade foi demonstrada a nível atómico, pelo grupo do Dr. Truscott. Neste trabalho foi verificado que uma medição futura afetaria o caminho que um átomo de hélio teria percorrido, conhecido como “efeito observador”, confirmando a visão de Bohr segundo a qual não faz sentido atribuir o comportamento da onda ou partícula antes que a medição ocorra e encorajando trabalhos em relação ao emaranhamento e retrocausalidade em sistemas macroscópicos.

 

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