OPINIÃO

Marlon Vinícius Brisola é professor da Universidade de Brasília - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária. Doutor em Ciências Sociais, com especialização em estudos comparados sobre as Américas (Ceppac/UnB), mestre em Ciências Agrárias, com especialização em Agronegócios (UnB), mestre em Administração de Empresas (CNEC) e graduado em Medicina Veterinária (UFMG). Pós-doutorado pela Facultad de Ciencias Económicas, Universidad de Buenos Aires, Argentina.

Marlon Vinícius Brisola

 

Muitos são os desencontros conceituais em relação ao que seja agronegócio, sistemas agroindustriais, complexos agroindustriais e cadeias produtivas. Muitas pessoas até acreditam que o agronegócio faz contraponto com o que chamamos de agricultura familiar.


Não quero aqui tecer explicações acadêmicas sobre cada uma destas expressões e suas semelhanças ou diferenças. Mas, para não deixar ninguém muito curioso, aproveito a oportunidade apenas para dizer que sistemas agroindústrias engloba todos os demais termos, já que todos são sistemas que interligam a produção rural aos processos de transformação e comercialização de produtos advindos do campo. De igual forma, a agricultura familiar e a agricultura patronal (que absorve mão de obra assalariada) estão dentro do que podemos chamar de agronegócio.


Para melhor explicar o que vem a ser o agronegócio, vamos recorrer a um conceito que eu mesmo expus em um livro que nosso Programa de Pós-graduação publicou em 2020: “[...] o Agronegócio refere-se a um objeto passível de ser analisado em uma dimensão multidisciplinar, onde a perspectiva relacional tem o homem e seus ‘negócios’ como contexto, e a produção agropecuária como referência.” Ou seja, em qualquer local ou condição que duas ou mais pessoas se relacionam para comercializar um produto de origem agropecuária, elas estão praticando um agronegócio.


Baseado nesta breve explicação, é possível confirmar que todas as transações de produtos ou insumos, ou mesmo tudo que decorre destas transações, desde antes da produção rural a até chegar à mesa do consumidor final, compreende o campo de estudos dos agronegócios. De igual forma, as mais diversas disciplinas, tais como economia, sociologia, agronomia, relações internacionais e até mesmo psicologia ou direito são consideradas integrantes deste campo de estudo – por isso, chamado de multidisciplinar.


É disto que tratamos com os nossos colegas professores e estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação em agronegócios da UnB, nos quais lecionamos e pesquisamos. Especificamente, tenho me dedicado a estudos comparados em história econômica e análise prospectiva dentro dos agronegócios – não especificamente de um produto ou de uma região.  


O Complexo do Café é uma das áreas que temos estudado. Recentemente dois estudos foram concluídos por estudantes que orientei e que envolveram o complexo do café.


Em um deles, realizado como produto de Trabalho de Conclusão de Curso de uma aluna de graduação, foram comparados municípios produtores de café e municípios cuja economia não se baseava na produção de café, na região sul de Minas Gerais. Os municípios foram cuidadosamente selecionados de forma a estarem dentro de uma mesma faixa quantitativa de população. As variáveis comparadas foram alguns índices socioeconômicos tais como renda média, concentração da renda, índice de escolaridade, entre outros. O estudo visava identificar o quanto a produção do café influencia positivamente (ou negativamente) no desenvolvimento local.


Outro estudo, realizado por uma estudante no curso de mestrado, visou analisar a trajetória institucional (ou seja, quais políticas públicas e privadas) influenciaram na produção, na comercialização e na organização de empresas envolvidas (propriedades rurais, cooperativas e processadoras) com o café de qualidade na Colômbia, no período recente de 26 anos.


Estudos como estes permitem entender e identificar fatores que levam à competitividade e à sustentabilidade de cadeias produtivas, qual é o impacto de determinadas tecnologias ou políticas públicas e qual o efeito da formação de ações coletivas de produtores, por exemplo.


A oportunidade de realizar estudos em territórios específicos ou mesmo em outros países permite ainda conhecer oportunidades de negócios ou fatores limitantes para estas mesmas cadeias em diferentes realidades, ou até de outras cadeias com características semelhantes.

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