OPINIÃO

 

Eliane Boroponepa Monzilar é graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), especialista em Educação Escolar Indígena pela Faculdade Intercultural Indígena, mestre em Desenvolvimento Sustentável Junto a Povos de Terras Indígenas e doutora em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. Participação do Projeto Diálogos de Saberes Interculturais Brasil/Suriname, vinculado ao Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento. Fez doutorado sanduíche na Universidade Anton de Kon (Suriname).

Eliane Boroponepa Monzilar

 

Esse artigo parte do referencial da experiência, convivência e transcendência da vida coletiva e pessoal da autora, resultado de pesquisa trabalhada e realizada pela indígena professora doutora Eliane Boroponepa Monzilar que trabalha na Escola Estadual Indígena Jula Paré, no Território Indígena Umutina, aldeia Boropo, estado de Mato Grosso, Brasil. Sobre a arte de Aprender o conhecimento a partir da convivência: uma etnografia indígena da educação e da escola do povo balatiponé-umutina entre os balatiponé-umutina, este escrito, sua tese guarda as memórias, a experiência de trabalho e as lutas do processo trilhado na vida pessoal, familiar, coletiva, profissional, nos intercâmbios culturais e na escolarização em distintos espaços e tempos nos âmbitos sociais e culturais.


Escrever as memórias dando a importância ao lugar, à história, à convivência em que interagem os saberes, modos de viver e pensar dos mundos indígena e o não indígena, a tradição oral em particular os saberes, conhecimentos tradicionais culturais, linguísticos da ancestralidade dos anciões balatiponé-umutina e o processo de ensino aprendizagem educacional.


O trabalho da pesquisa e minha formação na Universidade de Brasília impactaram o meio no qual estou inserida, bem como em outros espaços, no sentido de serem importantes para reativar, florescer e trazer à tona os acontecimentos, as memórias dos anciões no que tange aos saberes e fazeres da educação indígena e à educação escolar dos balatiponé-umutina, principalmente dando visibilidade ao fortalecimento do protagonismo indígena e às novas formas de fazer e produzir ciência.


Essas narrativas escritas e memórias são fundamentais, parte de textos produzidos na oralidade, sendo eu uma indígena, porta-voz através da escrita, ouvir os anciões e os indígenas interlocutores que ajudaram a construir e reconstruir a pesquisa, e a partir disto servir de subsídio para a realização dos trabalhos de pesquisadores e intelectuais referentes a essa temática.

 

O objetivo é retomar aspectos e elementos da pedagogia da educação indígena tradicional balatiponé-umutina para promover ações de fortalecimento e práticas de manejo desse saber, pelo fato de como procedeu a história dos balatiponé-umutina e que hoje o percurso apresenta uma nova conjuntura.


É muito importante esse trabalho de reconstrução e ressignificação dos saberes e conhecimentos tradicionais, apresenta aos leitores o universo indígena a partir da visão de uma indígena mulher pertencente a este povo que transita entre mundos indígena e o não indígena, e que sempre manteve essa ligação constante com suas raízes e suas ancestralidades balatiponé-umutina.


As ações que hoje realizo e ajudo na comunidade tiveram a contribuição da formação da Universidade e nesse sentido são defesa, luta e fortalecimento de uma boa educação de qualidade, principalmente no que tange às práticas culturais do povo balatiponé-umutina e à educação intercultural.


Atualmente, sou professora e gestora da Escola Estadual Indígena Jula Paré, na aldeia Umutina, desenvolvendo ações que vêm contribuir para o fortalecimento dos processos educacionais nos âmbitos administrativo, pedagógico, cultural e esportivo. As atividades das práticas pedagógicas desenvolvidas são oficinas, seminários, rodas de diálogo, palestras, intercâmbios culturais que visam um caráter participativo e dialógico, e cada um pode, a partir dessas atividades e dos seus próprios conhecimentos e habilidades, desenvolver técnicas novas e construir o processo de aprendizagens pessoal e coletiva.


A prática desses saberes indígenas e não indígenas são dialogados, ensinados aos indígenas estudantes para que possam ter esses dois conhecimentos: o da sociedade envolvida e o específico do povo balatiponé-umutina, assim, ocorrendo a interdisciplinaridade.


Portanto, as práticas pedagógicas realizadas com os estudantes que estão sendo desenvolvidas, principalmente na semana cultural da escola, nos apresentam a arte dos fazeres culturais na escola como um fazer multidisciplinar, que está ligado a todas as áreas de conhecimento, é muito interessante essa ressignificação. Nessa perspectiva, a filosofia da escola faz a conexão de despertar as ações que centram a sobrevivência e a autonomia do povo. Essas ações têm uma perspectiva que perpassa a antropologia da educação, visto que se embasam em fontes do passado e do presente, alinhando os saberes tradicionais e não tradicionais, reativando, incentivando, construindo e reconstruindo as técnicas e o manejo de conhecimento e saberes tradicionais, sendo uma forma de fortalecimento e valorização do povo balatiponé-umutina.

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.