OPINIÃO

 

 

Germana Henriques Pereira é professora Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, da Universidade de Brasília. Doutora e mestre  em Literatura pela Universidade de Brasília. Graduada em Licence En Portugais, em Licence En Français Lettres Modernes, em Maitrise En Lettres Modernes pela Université de Rennes II, França. Atualmente é diretora da Editora UnB.

Germana Henriques Pereira

 

O mês de abril é simbólico para a Universidade de Brasília. É o mês em que se comemora a inauguração da nova capital e da Universidade que viria a ser o seu principal complemento. Sessenta e dois anos de Brasília; 60 anos de UnB. Uma parceria que deu certo, moldada em conformidade com as novas dimensões que tanto uma quanto outra assumiu na compreensão das visões de mundo e de seu valor identitário e como fato cultural relevante para o desenvolvimento do país. Não há dúvida de que em sua visão de universidade necessária e emancipadora em que se empenhou, a preocupação com a cultura sempre esteve presente na UnB.


O fazer cultural da Universidade de Brasília, em sua dimensão transformadora, dá um sentido novo ao termo, subvertendo paradigmas, revolucionando conceitos e a praxis cotidiana vivida em seus campi, seja em performances artístico-culturais, seja em manifestações democráticas promovidas de tempos em tempos pela comunidade acadêmica, com sentido libertário, como contribuição para a política, a cultura e a educação, que ressoam no interior do tempo histórico. O que nos faz lembrar Edgar Morin, para quem a vida é prosa e poesia: a prosa é a parte das obrigações, o que nos aborrece e que temos de fazer para o nosso sustento, necessárias à existência; na poesia estão a alegria, o amor, a estética, o gozo,  a participação “e, no fundo, é a vida” (Amor, poesia, sabedoria, 2008, p. 59). A UnB, parece, faz prosa e poesia, inspira e conspira em seu viver para fazer presente a cultura sintonizada com os novos tempos do mundo.


Nada melhor, portanto, do que subverter paradigmas, observando, entretanto, que a nova sociedade do conhecimento ampliou e produziu mudanças significativas no formato das relações e interações pessoais e sociais, ocasionando, consequentemente, transformação da forma de pensar e agir e das possibilidades interpretativas sobre as formas de produção cultural e a que elas servem.


Para falar de uma cidade como Brasília, marcada pela monumentalidade, é preciso levar em consideração o modo como a percebemos e a assimilamos em sua concretude, o que implica dizer que a presença da Universidade de Brasília possibilitou à nova capital uma identidade fértil de cultura como também a base específica e necessária da resistência contra a precarização do conhecimento.


A UnB se instala em Brasília já comprometida com um projeto de Nação, com a concepção de uma educação de qualidade, que nos promovesse, como sociedade e cidadãos, a um estágio superior de desenvolvimento, conforme argumentou Darcy Ribeiro, seu criador. Para ele, o papel do intelectual público, instalado na universidade, tem o compromisso com a formação de uma consciência crítica para o arrojo da construção de uma sociedade democrática, com vistas à superação do atraso.


Por isso, além dessa reflexão, trazemos também a perspectiva de lugares como portadores de uma estética da vida, o que implica pensar o que faz “o acontecer” na vida da cidade e seus personagens, que, para além da sua cotidianidade, estão sempre a inventar diferentes formas de promoção da cultura e do conhecimento; a criar formas de sobrevivência, luta e resistência, absorvendo o que disse o professor Milton Santos, em sua obra O espaço do cidadão (2007), sobre as cidades e seu “grande papel na criação dos fermentos que conduzem a ampliar o grau de consciência. Por isso, são um espaço de revelação”  (SANTOS, 2007, p. 83-84).


Para além da questão que está no foco da pergunta inicial, observemos que a história se faz com perguntas. Mas como o sentido da pergunta só se determina pela sua motivação, continuamos a interrogar sobre o lugar da UnB na história da capital do país, fazendo parte de um modo instigante de se pensar a cultura como um processo por meio do qual é possível contrapor àquela forma em que a cultura é usada para manter as relações de dominação, e ser transgressora, como o é a UnB desde sua criação, para se inscrever na tarefa desafiadora da contra-hegemonia, apropriando-se da cultura e a ressignificando para o bem da sociedade.


Viva a UnB! Viva Brasília!

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