OPINIÃO

 Arte: Patrícia Meschick

 

 

Rafael Litvin Villas Bôas graduado em Jornalismo, mestre em Comunicação Social e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília. Possui pós-doutorado pelo PPG em Artes Cênicas da USP. É professor da Licenciatura em Educação do Campo da Faculdade UnB Planaltina, do Mestrado Profissional em Artes (Profartes pólo UnB) e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPG-CÊN). Coordena o grupo de pesquisa Terra em Cena: teatro, audiovisual e educação do campo. É vice-líder do grupo de pesquisa Modos de Produção e Antagonismos Sociais.

Rafael Villas Bôas

 

Quinta-feira, 14 de abril de 2022: o dia em que Hugo Rodas foi velado. Encontros, lágrimas, tristeza e alegria, partilha, festa, celebração. Parte expressiva do segmento artístico do Distrito Federal foi até o teatro Galpão, no espaço cultural Renato Russo, da 508 sul, para reverenciar o mestre. Passaram por lá atrizes, atores, estudantes, professoras e professores da Universidade de Brasília (UnB), do Dulcina, da Secretaria de Educação do DF, artistas plásticas, palhaços, a reitora e outras autoridades da UnB, a presidenta da Fiocruz e a diretora da Fiocruz DF, jornalistas, parlamentares federais e distritais.


Nos depoimentos que eu e o produtor e cineasta Maurício Neves colhemos para a UnBTV, Hugo Rodas foi lembrado como um marco divisor na história artística de Brasília, como alguém responsável por estabelecer a base estética da contestação e da ousadia na capital federal, como a principal influência para muitas atrizes, atores, professoras e professores da UnB, como um mestre que formou gerações de profissionais do teatro na capital do país, exaltado também por seu talento em diversas linguagens artísticas, o que lhe permitiu desempenhar diversas funções do fazer teatral – diretor, ator, cantor, músico, bailarino, coreógrafo, cenógrafo, figurinista –  e o consolidou como um dos principais diretores da cena contemporânea brasileira.


Uma tradição teatral se forma quando as relações de complementariedade do sistema teatral amadurecem e adquirem um grau de expressão particular em diálogo maduro com tendências externas. Os pólos do sistema teatral compreendem autores, obras, encenações e público. Hugo Rodas foi um pivô constituinte da formação desta engrenagem no teatro produzido no Distrito Federal, que circulou pelo Brasil em circuitos profissionais e do teatro universitário.


Um aspecto importante a destacar é a origem uruguaia e a formação estética ampla e profunda que Rodas recebeu no âmbito familiar e no movimento de teatro independente da capital uruguaia na década de 1960, que Hugo Rodas se envolveu ao integrar o elenco do Teatro Circular, e participar dos processos formativos da Escola-Teatro da companhia. De acordo com a pesquisadora Cláudia Moreira Souza, na dissertação O Garoto de Juan Lacaze: Invenção no teatro de Hugo Rodas (2007, p. 31): “A diversidade da cena de Montevidéu causa uma profunda impressão em Hugo Rodas e é parte integrante de sua formação artística. Ao tempo em que era possível prestigiar os grandes nomes do teatro europeu, também estavam disponíveis as montagens da Comédia Nacional e as experimentações de linguagens e modos de produção propostas pelo movimento do teatro independente”.


Por sinal, as influências recíprocas do teatro brasileiro com os países vizinhos são ainda tema pouco conhecido nos estudos teatrais. Entre as décadas de 1950 e 1970 o grau de integração dos coletivos, por meio dos encontros em festivais, foi crescente, e durante a ditadura alguns dos principais grupos, por meio de seus diretores, chegaram a criar a Frente de Trabalhadores da Cultura Nuestra América, como ação de resistência ao ciclo de ditaduras na América do Sul e ao imperialismo.


No caso de Hugo Rodas, a nova capital federal estava debutando quando o artista decide aqui fixar residência. Chegou quando o período repressivo e da censura estava no auge no Uruguai, enquanto, no Brasil, a ditadura terminava de exterminar os movimentos de resistência armada contra o regime autoritário, e investia na criação de estruturas estatais, como a Embrafilme, o Serviço Nacional de Teatro, o Serviço Nacional do Livro... O primeiro de muitos prêmios de Rodas no Brasil é, inclusive, concedido pelo Serviço Nacional de Teatro, de melhor espetáculo infantil, com a montagem de Os Saltimbancos (1977). Sua presença contribuiu para o fortalecimento do caráter contestador do nascente teatro da capital brasileira frente à ditadura.


Da formação no Uruguai, Hugo Rodas traz também para Brasília seu espírito de grupo. No site da Agrupação Teatral Amacaca, último grupo que ele dirigiu, essa característica é destacada: “Huguito tem uma trajetória ligada a coletivos e parcerias. Nos anos 1970 e 1980, dirigiu o Grupo Pitú e, também nessa época, vieram as primeiras experiências com Antônio Abujamra, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e com José Celso Martinez Corrêa, no Teatro Oficina. Nos anos 1990, foi a vez das parcerias artísticas com o Teatro Universitário Candango (Tucan) e a Companhia dos Sonhos. Em seguida, na década de 2000, surgiu a Agrupação Teatral Amacaca (ATA), sua mais recente trupe”.

 

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