OPINIÃO

 

Luciano Mendes é professor do curso de Publicidade e Propaganda do Departamento de Audiovisuais e Publicidade (DAP), da Faculdade de Comunicação (FAC) da Universidade de Brasília. Doutor em Comunicação (FAC/UnB) e coordenador do grupo de pesquisa GIBI – Grupo de Estudo de História em Quadrinhos.

Luciano Mendes

 

A construção de uma identidade nerd – ou geek (é a mesma coisa ou não é?) – muitas vezes tem marcos precisos. Um desenho animado nas tardes antes do dever de casa, uma HQ emprestada do amigo de sala, uma sessão de cinema sozinho. No meu caso vivi todos esses momentos e mais alguns muito importantes. Mesmo não sendo o primeiro dos episódios, nem mesmo o mais destacado, sempre lembro quando terminei de assistir a todos os filmes da prateleira de terror/suspense da locadora da minha quadra. Era um feito e tanto naqueles dias e isso me credenciou em várias conversas e discussões como um orgulhoso especialista. Totalmente coisa de nerd ou como diziam na minha época, de um esquisito mesmo.

Como falei, esse momento não é o mais importante do meu DNA nerd/geek, mas ele me leva a outra conjuntura definitiva de minha jornada obsessiva por assuntos que não interessam à maioria das pessoas. Quando entrei na faculdade, meus colegas e professores tinham zerado outras prateleiras onde figuravam os Truffauts e os Godards, os Fellinis e os Buñuels. Eu, jovem nerd acostumado a posar de experto, perdi meu Prime Radiant..., mas aqui está o plot twist dessa jornada: um nerd acha o outro, não importa em que galáxia muito, muito distante ele esteja. Aos poucos fui encontrando, entre os colegas e professores, legítimos weirdos que não só curtiam as mesmas coisas que eu, como também valorizavam e enxergavam relevância acadêmica naquelas esquisitices que compartilhávamos.

Já se vão 30 anos desde esse encontro de idiossincrasias juvenis e uma vida acadêmica plena – com direito a mestrado e doutorado – que só uma universidade como a UnB pode proporcionar. Aqui pude descobrir que um produto da cultura pop, muitas vezes, pode dizer mais sobre a sociedade da qual faz parte do que um produto cultural assumidamente construído para ser um comentário crítico. Produtos de entretenimento “rápido e rasteiro” nos pegam de guarda baixa – como um bom jump scare – e comunicam de forma impactante conceitos, ideias e, por que não, valores e concepções. Nesse trajeto, ficou claro que ser fiel às minhas quinquilharias foi o mais acertado, pois pude entender o que tudo aquilo significava e ir além, pesquisando e produzindo conhecimento. Conhecimento esse que hoje posso aplicar em pesquisas, em orientações e sobretudo em sala de aula e ajudar pessoas singulares a encontrar sentidos muito maiores em seus objetos de paixão nerdística.

Nerds, geeks, trekkies, warsies, whovians, gamers, otakus, treinadores Pokémon, ARMYs variados, potterheads e fãs em geral, unam-se nesse dia especial – e em todos os outros da sua trajetória por aqui –, pois a universidade também é de vocês.

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