OPINIÃO

 

Ana Flávia Lucas de Faria Kama é doutoranda em Ciência da Informação pela UnB, entusiasta do Espaço POP e bibliotecária da Biblioteca Central da UnB.

Ana Flávia Lucas de Faria Kama

 

A Cultura POP está presente no cotidiano do mundo ocidental desde a década de 50 do século XX, com maior expressão a partir dos nos 80. Ela reflete grande parte da identidade cosmológica da geração pós-guerra e moderna. Passou das revistas e livros para o cinema, séries de TV, artes  visuais, vestuário e moda, brinquedos, tecnologia, músicas e chegou invariavelmente aos ouvidos e olhos de muitos de nossos contemporâneos.


Esse tipo de produção e estilo de vida também foi possível por meio do fenômeno da Comunicação de Massa, que possui seus alicerces calcados nos grandes meios de comunicação, como o rádio, a TV e o Cinema. Mas e a biblioteca nessa grande jornada? Ficam nas telas frias de desastres ambientais Nova Iorquinos ou no imaginário dos caçadores de recompensa? Ou até mesmo poderia lhes restar o estereótipo da bibliotecária com coque, óculos fundo de garrafa e muito muito conhecimento para compartilhar...? Também, por que não? Mas não só.


Já diria o professor paulista Milanesi, as bibliotecas são as instituições mais longínquas identificadas como cultura, ligadas à arte e à emancipação do ser humano enquanto ser social e... poético. Trazer o universo da Cultura POP para um ambiente fervilhante de conhecimento e potencialmente transformador seria um caminho natural, contudo, o óbvio precisa ser dito – todos os dias, muitas vezes. Há pouquíssimo tempo as bibliotecas, especialmente as universitárias, vêm tomando para si parte da grande responsabilidade de seus incríveis super poderes e levando ao seu público acervos, atividades e serviços também relacionados à Cultura POP.


A sexagenária Biblioteca Central da Universidade de Brasília (BCE/UnB) assumiu esse compromisso com sua comunidade acadêmica e público em geral em 05/06/2018, quando foi inaugurado o Espaço de Pesquisa e Oficina Pagu, o Espaço POP. Criado com o objetivo de oferecer aos usuários da BCE um novo conceito de interação e de uso de uma biblioteca universitária, seu nome foi escolhido a fim de homenagear a brasileira escritora, cartunista, poeta, diretora de teatro, tradutora, jornalista e desenhista Patrícia Rehder Galvão, conhecida pelo pseudônimo de Pagu.


O Espaço POP conta com ambiente e acervos dedicados à Cultura POP, tanto nacional como internacional, estabelecido em um local especial da BCE: em seu saguão de entrada. Oferece um acervo de cerca de 1.190 histórias em quadrinhos, graphic novels e gibis, além de quebra-cabeças, mini figures, xadrez e 38 jogos de tabuleiro. Desde sua inauguração, promoveu diversas oficinas relacionadas ao tema, como introdução do RPG, história das HQs, oficinas, lançamento de obras, exposições e feiras de animes e zines, trazendo grandes nomes da arte local do DF e internacional, como a autora belga Flore Balthazar e o professor pesquisador Waldomiro Vergueiro, sempre com a presença de professores e estudiosos da UnB, especialmente das Faculdades de Comunicação e Instituto de Letras, além da presença dos dedicados e assíduos usuários e usuárias do Espaço.


Gerido pela área de Atendimento da BCE, o Espaço POP conta com uma equipe de um bibliotecário e uma assistente, ambos assumidamente nerds (ou geeks!) e admiradores da cultura POP. Assumem diuturnamente a missão de promover para e com o público da biblioteca as dores e delícias de se entender um cidadão do mundo, ao facilitarem o aprendizado, momentos de lazer e afeto.


Nesses mais de 4 anos, o Espaço POP foi um dos responsáveis pela emancipação da BCE enquanto uma instituição disposta ativamente a mudar a vida de seu público com tons inovadores, por meio da disponibilização de serviços e produtos de informação de forma digna, divertida e totalmente gratuita, no encalço de seus grandes poderes e grandes responsabilidades... mesmo que sem capa. Será que estamos chegando lá?





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