OPINIÃO

Aldo Paviani  é geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília, membro da Associação Nacional de Escritores (ANE) e do Instituto Histórico Geográfico do DF (IHG.DF) e do Núcleo do Futuro da UnB/Ceam. Doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Aldo Paviani

 

De modo geral, a mídia utiliza o termo meio ambiente para se referir à natureza viva, onde o homem está inserido. Há características ambientais que nos fazem manter e perpetuar as condições do ambiente como essenciais à vida no planeta azul . De fato, os componentes ambientais são inseparáveis: a vegetação, os lagos e oceanos, o solo e a chuva. Especialmente na Amazônia e no bioma cerrado, a existência de árvores facilita a manutenção da umidade ambiental e evita erosões. Em condições ideais, ocorrerá ambiente propício para que se formem nuvens e a possibilidade de que ocorram chuvas.

 

Aliás, no atual período, que a agenda ambiental demarca como sendo mais úmido e propício às precipitações atmosféricas, parece ter se modificado, pois só se percebem chuvas esparsas e ocasionais e não em todo o território como era de esperar. Por isso, aqui e ali, não se formam nuvens propícias às chuvas. Provavelmente, dirão alguns, o período chuvoso se retardou. Ou, o que é pior, vamos enfrentar as malfadadas mudanças climáticas, que a mídia de todo o mundo passou a acompanhar. Veremos o que acontece até maio, quando poderá se iniciar o período seco no Centro-Oeste brasileiro.

 

Mas o que esperar se a natureza é agredida ou desrespeitada? Em diversos pontos da cidade notam-se podas radicais em árvores que poderiam permanecer frondosas, proporcionar sombra, ser abrigo noturno para os pássaros, manter o subsolo úmido e embelezar o ambiente com o verde exuberante. Contudo, não é o que acontece: troncos jazem na sarjeta e são testemunhas de que temos menos uma árvore no ambiente urbano, já tão impermeabilizado com construções, asfalto e obras urbanas de variadas naturezas.

 

As ações humanas vão modificando os territórios, antes abertos e ocupados por florestas, rios não poluídos e variada gama de animais silvestres, estes, aos poucos dizimados com desequilíbrios no ambiente natural. Entre as ações que podem ser bem percebidas estão as queimadas em matas, florestas e no cerrado. Não apenas se dizimam árvores, mas igualmente o fogo destrói o habitat dos animais que nele vivem. É importante preservar fauna e flora originais para que as gerações futuras possam dar continuidade e, se possível, ampliando as espécies existentes. A natureza espera atitudes sensatas para que plantas e animais possam ser protegidos para que se mantenha o cenário verde com o solo fértil. Se o desaparecimento do verde for muito rápido, poderemos presenciar a desertificação. No solo gaúcho, próximo a fronteira com a Argentina e Uruguai, há porções do território desertificado, provavelmente sem retorno para as pastagens que alimentavam o gado lá existente.

 

Igualmente, no Nordeste brasileiro, sobretudo no Piauí, há porções desertificadas com impossibilidade de cultivos de qualquer espécie vegetal; o que torna a desertificação um grave problema para a produção de alimentos, onde há populações famintas, empobrecendo ainda mais a região. Igualmente se constata que as chuvas são intermitentes ou mesmo escassas para cultivos e criação de animais para abate.

 

No restante do país há desequilíbrio ambiental, quanto a ocorrência de chuvas. O Correio Braziliense publicou em fins de dezembro do ano passado que as fortes chuvas castigam 116 municípios baianos e deixaram 20 mortos e 358 feridos , além 31.405 desabrigados e 31.391 desalojados. Por solidariedade, outros estados fizeram muitas doações de diversas naturezas para mitigar as perdas dos baianos, inclusive com o deslocamento de bombeiros do DF para colaborar nesse período de catástrofe pluviométrica que ocorreu na Bahia.

 

Presentemente, foi a vez de São Paulo sofrer com a ocorrência de temporais, que destroem e matam, segundo registra o matutino brasiliense em 31 de janeiro passado. Para ter uma ideia dos prejuízos e sofrimento dos paulistas, o jornal informa que inundações e deslizamentos ocorrem na capital e no interior de São Paulo, com feridos, mortes, famílias desalojadas e desabrigadas. Recursos extras no orçamento estadual e ajuda federal deverão reduzir os prejuízos que essas catástrofes ocasionaram.

 

Tendo o Brasil porte continental, não é de todo despropositado recomendar medidas preventivas que possam proteger a população e manter o equilíbrio ambiental para minorar essas tragédias. Um aspecto importante é manter as matas e as florestas nativas, que sempre trarão benefícios. Se, ao contrário, houver desmatamento e queimadas, o território sofrerá as consequências da insanidade. Por isso, florestas e matas, sobretudo as matas ciliares, são necessárias para manter o ambiente natural em estado estável , como determina a Teoria dos Sistemas. Todos devem assumir sua responsabilidade no equilíbrio ambiental.

 

Publicado originalmente no Correio Braziliense em 7/2/2022.

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