OPINIÃO

Rebecca Religare é doutoranda do Programa de Direitos Humanos (PPGDH/CEAM).

Rebecca Religare

 

Vai lá, toca Maria Bethânia pra ela, mostra que você é intensa. Aproveita e corre uma maratona, chega primeiro, grita que "é por você, amor" e sem perder tempo, beije seu mino na frente dos outros.

 

Grite a plenos pulmões e risque no céu que aquela travesti é sua namorada; Andem de mãos dadas; façam serenatas; façam amor e revolução; vão à manifestações porque a realidade do mundo só gira com novos pensamentos e saberes; comprem flores, contem [quando achar que for a hora] aos seus pais sobre sua sexualidade, orientação sexual e/ou identidade de gênero; ou não contem, até porque às vezes a sua família não será a sua família nuclear cosanguínea...já dizem por aí que quem tem um amigo tem tudo.

 

Ajudem os amigues trans com as primeiras novas roupas e doem blusas, vestidos, calças porque serão precisos e pode ser que seus amigues não tenham dinheiro para comprar após uma expulsão de casa;

 

Estudem, porque muito provavelmente, precisaremos provar que somos melhores e a sociedade nos fará pensar que só teremos paz e tranquilidade se tivermos um espaço privado para nos relacionar afetivo sexualmente com nossos amores.

 

Bebam muita água para dar conta do preconceito que vem só que ao menos estaremos hidratadas e pleníssimas.

 

Não se mantenham em relacionamentos abusivos só para mostrar para suas famílias que vocês deram certo no amor – pessoas começam e terminam relações e isso é normal, não se trata de estar ou não no caminho certo.

 

Fiquem todos tranquilos, vocês pessoas cisgêneras, para usarem o banheiro unissex, está tudo bem! Nunca foi sobre vocês, tem muito mais questões e camadas acontecendo e de maior importância;

 

Sim, eu sei, tem sido duro lidar com a lgbtfobia...olhar para o lado e ver casal de lésbicas sendo xingado, mulheres lésbicas sofrendo estupros corretivos, gays sendo mortos por seus pais, pessoas trans cometendo suicídio, pessoas bissexuais sendo estigmatizadas como promíscuas.

 

O total descaso político por nossas pautas e o emaranhado semântico construído sobre nossos corpos – abjetos, sexuais, impuros – nos relegam a um lugar de vulnerabilização e fragilidade emocional e para combater e vencer esse cenário fazemos do gueto, e da margem pontos de escape e refrigério – a verdade é que o periférico sempre foi o central, mas isso a gente vai aprendendo com o tempo.

 

Realmente nossas lutas não têm sido fáceis e nunca foram, mas todo dia 28 de junho a gente lembra do primeiro emprego em que se pode falar o seu nome, sem ser o de registro; a gente lembra como foi chegar pela primeira vez na festa da UnB de mãos dadas com a crush, aquele abraço de acolhimento junto com a frase “ te amamos do jeito que você é” – infelizmente tão almejada por tantos e exitosa para poucos; a gente lembra de quando foi expulso/expulsa de casa e de tudo o que aconteceu para chegarmos até aqui; a gente lembra como foi colocar aquele salto e manter a pose; a gente reza, porque, honestamente, nunca entendi porque separam homossexualidade das religiões; a gente vibra, luta e persiste em acreditar que as coisas mudarão porque é preciso esperançar e viver.

 

Já viram como a cidade tá linda? Celebrem em todos os pontos coloridos e simbólicos, tirem fotos, sorriam, não deixem que projetem em nós o destempero do preconceito e devolvam a semente da generosidade, exuberância e plenitude.

 

Sejamos, pão com ovo, barbie, siga bem caminhoeiras, amapôs, monas, scanias, emocionadas, poc, ursos.

 

Sejamos sempre orgulhosas, orgulhosos e orgulhoses.

 

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