OPINIÃO

Wladimir Ganzelevitch Gramacho é doutor em Ciência Política. Coordenador do Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública (CPS) e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.

Wladimir Gramacho

 

Não há dúvidas de que a circulação de desinformação é um problema sério no Brasil. Com razão, instituições e indivíduos têm se preocupado, por exemplo, em conter a influência de informações falsas na decisão das pessoas em se vacinar e na discussão sobre as eleições deste ano. Mas um estudo global (íntegra – 3MB) sugere que, por mais grave que esse problema seja por aqui, os brasileiros parecem ter um nível de discernimento maior que cidadãos de outros 15 países diante dessas desinformações.

Sob a coordenação de dois dos principais pesquisadores sobre desinformação em todo o mundo –Gordon Pennycook (Universidade da Regina, Canadá) e David Rand (MIT, Estados Unidos) –, o estudo entrevistou mais de 33 mil pessoas em 16 países de 6 continentes durante o primeiro semestre de 2021. O objetivo do trabalho era descrever as características individuais mais associadas ao compartilhamento de desinformações e identificar as estratégias mais eficientes para enfrentar esse problema.


Ainda que não tivesse o propósito de estabelecer propriamente um ranking global de habilidades individuais em discernir desinformações, o estudo revelou dados positivos sobre o Brasil. Uma das tarefas solicitadas aos participantes da pesquisa era indicar se compartilhariam ou não diversas mensagens, entre as quais havia algumas informações verdadeiras e outras falsas.

Outros resultados do estudo também são muito interessantes. Em todos os países estudados, por exemplo, algumas características individuais parecem estar significativamente associadas a uma maior capacidade de discernir entre informações falsas e verdadeiras. Entre elas, pessoas que gostam de desafios intelectuais, que cultivam valores democráticos e que acreditam que é mais importante prestar atenção aos argumentos dos políticos do que simplesmente seguir o que eles recomendam.

Por outro lado, em muitos países, algumas características estiveram associadas à menor capacidade de discernimento de desinformações. Indivíduos que declaram pertencer a minorias étnicas, que são de famílias de baixa renda e que têm perfil mais conservador tendem a ter maior dificuldade de separar notícias falsas das verdadeiras.


Ao investigar as estratégias para enfrentar a desinformação, o estudo mostrou que um simples convite para que alguns participantes classificassem uma notícia como verdadeira ou falsa fez com que eles fossem mais criteriosos no compartilhamento de notícias, em comparação com os demais participantes que não haviam recebido o convite. Esse resultado tem se repetido em diversas pesquisas e sugere que – de tempos em tempos – é importante estimular as pessoas a refletirem sobre a veracidade do conteúdo que circula na internet. Essa medida simples tende a reduzir o volume de circulação de desinformações.




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Publicada originalmente no Poder 360 em 07/06/22.

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