OPINIÃO

 

Fernanda Antônia da Fonseca Sobral é professora emérita e colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (UnB). Atualmente é vice-presidente da SBPC.

Fernanda A. da F. Sobral

 

Diante da proximidade da realização da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na Universidade de Brasília (UnB), cabe lembrar  os laços entre as duas instituições, que começam na criação da UnB.

 

Nos dias 27 e 28 de outubro de 1961, na sede do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, ocorreu um simpósio convocado pela SBPC para debater o plano de estruturação da UnB. Estavam ali presentes seus principais fundadores, Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, junto a tantos outros cientistas, intelectuais e professores. Entre eles, estavam José Leite Lopes, José Goldemberg, Vladimir Murtinho, Carlos Chagas Filho, Valter Osvaldo Cruz, Crodowaldo Pavan, Ciro dos Anjos, Roberto Cardoso de Oliveira, Lucio Costa, Oracy Nogueira, Florestan Fernandes e Jayme Tiombo.

 

Ao longo dessas seis décadas, a UnB já sediou três reuniões anuais da SBPC. Nesses eventos, foram apresentados e discutidos  os principais  temas da nossa ciência, como também debatidas várias políticas em momentos de grande importância do nosso país.

 

A primeira reunião anual da SBPC na UnB ocorreu em 1976, no momento da abertura política, quando Oscar Sala era seu presidente. Esse momento está bem descrito no livro “A Construção da Ciência no Brasil e a SBPC”, de Ana Maria Fernandes, professora da UnB e vice-presidente da SBPC de 2001 a 2003. Ela substituiu a também professora da UnB Vilma Figueiredo, que ocupou o mesmo cargo na gestão anterior. A reunião de 1976 foi marcada por críticas ao modelo econômico vigente e pela participação intensa das ciências sociais, até então pouco incluídas na SBPC. A coordenação local do evento esteve a cargo de Renato Cordeiro, atualmente conselheiro da SBPC.

 

Em 1987, momento de euforia com a redemocratização do País, a SBPC realizou na UnB a sua 39ª Reunião Anual, sob a presidência de Carolina Bori (que havia sido professora na UnB), quando o reitor era Cristovam Buarque. Já a coordenação local esteve a cargo de Isaac Roitman e João Luiz Homem de Carvalho. O tema da reunião foi “O futuro do Brasil hoje”, na qual foram discutidas propostas para a Assembleia Nacional Constituinte.

 

No ano de  2000, iniciando o século, a UnB sediou a 52ª Reunião Anual da SBPC, sob a presidência de Glaci Zancan e na reitoria de Lauro Morhy, com o tema “O Brasil na Sociedade do Conhecimento: Desafio para o Século XXI”.

 

Finalmente, chegamos ao ano de 2022, quando novamente acontece uma reunião anual da SBPC na UnB, agora presidida por Renato Janine Ribeiro, tendo Márcia Abrãao como reitora, sob a coordenação local de Maria Emília Walter. Importante destacar que será uma reunião com várias comemorações, começando pelo bicentenário da Independência do Brasil, tema desta edição: “Ciência, Independência e Soberania Nacional”. Estaremos também comemorando os 60 anos da UnB, os cem anos de Darcy Ribeiro e os cem anos da Semana de Arte Moderna. Mas essas comemorações não serão apenas laudatórias, constituirão também um espaço para reflexão crítica sobre esses acontecimentos, suas influências no presente e para pensar perspectivas futuras. Essa tem sido a tradição da SBPC, que, unida à UnB, trava uma batalha constante pela valorização da ciência, da educação e da cultura, procurando contribuir para a construção de um futuro melhor para o nosso país.

 

Durante a semana, que vai de 24 a 30 de julho, serão debatidos projetos, sucessos e desafios das universidades brasileiras, incluindo os projetos de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. A saga das universidades brasileiras será visitada pela história da UnB, através de várias atividades dedicadas aos 60 anos da universidade.

 

Também serão discutidos aspectos sobre a pandemia covid e o pós-covid; o meio ambiente, incluindo sustentabilidade, energias alternativas, agricultura sustentável, mudanças climáticas e os impactos das queimadas; os meios de informação e comunicação, impacto e enfrentamento das fake news, desinformação e negacionismo científico; democracia e soberania nacional, incluindo debates sobre as urnas eletrônicas, empoderamento digital e liberdade acadêmica. Não faltarão os grandes debates tradicionais das reuniões anuais sobre as políticas de educação, direitos humanos, ciência, tecnologia e inovação, para os quais convidamos todos a participar.

 

A SBPC segue a sua trajetória de 74 anos de lutas históricas por essas questões, mais uma vez associada à UnB.

 

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