OPINIÃO

 

Cláudia Linhares Sales é doutora em Informatique - Recherche Operationnelle - Université de Grenoble I (Scientifique Et Medicale - Joseph Fourier). Secretária Geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, gestão 2021-2023.

Cláudia Linhares

 

A ideia do Programa SBPC vai à Escola foi lançada em 1993, pelo eminente Prof. José Leite Lopes, que tinha como propósito levar pesquisadores às Escolas de Ensino Médio do Rio de Janeiro visando melhorar a qualidade da educação científica dos estudantes. A ideia foi encampada pela Secretaria Regional da SBPC no Rio de Janeiro (SBPC-RJ) e, em 1995, sob a coordenação do Prof. Ronald Cintra Shellard beneficiou mais de 50 escolas no Estado. Posteriormente, o  projeto foi então estendido pela SBPC para todo o país, pela anuência à constatação de que "a cultura científica é parte integrante dos requerimentos básicos à cidadania" (Tribuna da Imprensa de 30/03/1995). Com o SBPC vai à Escola espera-se abrir o espaço para que enquanto aprimoram a sua cultura científica, os estudantes e professores tomem conhecimento das pesquisas de ponta realizadas no Brasil, em todas as áreas do conhecimento, tornando o programa um vetor para a tão necessária aproximação dos pesquisadores e da sociedade, abrindo janelas para uma troca e aprendizagem mútuo entre os cientistas e o público alvo.


É senso comum que é através de uma educação de qualidade, em todos os níveis, que o Brasil poderá fazer face e vencer os grandes desafios que se apresentam para o seu pleno desenvolvimento. Na busca de um processo educacional de excelência, um dos principais obstáculos a serem ultrapassados é a perversa e ineficiente valorização do processo informativo que prevalece na educação brasileira desde a pré-escola, avança no ensino primário, alcança o secundário, comprometendo, inevitavelmente e de maneira maléfica, qualquer capacitação profissional mais especializada que se queira prover aos estudantes, incluindo o ensino superior. Por outro lado, a educação básica brasileira vem sofrendo reformas curriculares que almejam direcionar a formação dos estudantes para o que os mentores entendem como necessidades práticas para o estudante e para a sociedade. Dentro desse cenário, as lacunas da educação científica e cultural e do desenvolvimento do senso crítico e criatividade se exacerbam, prejudicando os esforços de melhoria da formação dos futuros estudantes e cidadãos.


Embora pontuais, as atividades do Programa SBPC vai à Escola trazem, em geral, soluções criativas, experimentadas na prática, para o desafio de suprir as lacunas acima citadas.  Como é um programa de inserção nacional, as atividades são completamente pensadas para as realidades locais, de público alvo e de infra-estrutura das escolas e das secretarias de educação dos municípios e estados onde se desenrolam. As escolhas dos temas dos projetos também nascem da realidade local, tendo em vista que são os docentes e pesquisadores das universidades e institutos locais que coordenam essas atividades, em comum acordo com as escolas.


Como forma de democratizar o acesso aos recursos concedidos à SBPC pela Capes, CNPq e Finep para essa finalidade, os projetos do SBPC vai à Escola são selecionados através de edital nacional, aberto a sócios da SBPC, que articulados com as Secretárias Regionais e Conselheiros da SBPC de sua região, além de secretarias de educação municipais ou estaduais, ou diretamente com as escolas de seu entorno, realizam atividades tais como oficinas, palestras, feiras, laboratórios, e exposições, e produzem material didático, vídeos e cartilhas, entre outros.


Quase 30 anos depois, o Programa SBPC vai à Escola mantém-se fiel às ideias seminais de seus mentores. Os projetos atuais são executados em 18 estados brasileiros, muitos deles no interior desses estados, levando à frente a ação de cientistas que acreditam que é mesmo a cultura científica um requerimento básico para a cidadania.

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