OPINIÃO

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José Jorge de Carvalho é professor da Universidade Brasília e coordenador do Encontro de Saberes (Instituto de Inclusão - CNPq/UnB).

 

 

 

José Jorge de Carvalho

 

O grande Mestre Biu Alexandre, do Cavalo Marinho Estrela de Ouro de Condado, deixou-nos ontem, após uma longa e plena vida de 79 anos, devotada inteiramente às artes e aos saberes tradicionais da Mata Norte pernambucana. Nós, do INCT de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa, órgão de pesquisa do CNPq sediado na Universidade de Brasília, lamentamos profundamente a perda do maravilhoso Mestre que ministrou aulas inspiradíssimas na nossa universidade. Sua marcante liderança, por quatro gerações de brincantes do Cavalo Marinho em Pernambuco, refletia o cultivo dos múltiplos dons de um mestre completo: da dança, do canto, da poesia, das vestes, das figuras, do teatro, da puia, do ritual.

 

Além desse lugar de destaque na cultura do estado em que viveu, Mestre Biu será também sempre lembrado no nosso meio acadêmico por outra contribuição que já adquire cunho histórico: ele proferiu o primeiro módulo da primeira edição da disciplina Encontro de Saberes, um projeto iniciado na UnB em 2010. Acompanhado de seus filhos Aguinaldo e Risoaldo, do neto Fábio e do mestre da rabeca Luiz Paixão (que tristemente também nos deixou no dia 21 de maio passado), Biu inaugurou esse processo de abertura das portas do mundo acadêmico para os mestres e mestras das tradições populares brasileiras, que começou justamente com o Cavalo Marinho, uma das mais ricas e belas expressões culturais vigentes no Brasil.

 

O Encontro de Saberes é um projeto que está se transformando em um movimento de escala nacional, já implementado em dezesseis universidades em cinco regiões do país. Mais de duzentos mestres e mestras nas áreas das ciências, tecnologias, artes e tradições espirituais têm atuado como docentes em todas essas universidades; e coube a Mestre Biu puxar essa galeria de sábios e sábias convidados a ensinar suas tradições culturais nas universidades, em uma condição plena de docentes, fato este inédito no nosso mundo acadêmico.

 

A fotografia de Mestre Biu está incrustada na parede da Biblioteca do Instituto de Inclusão e uma placa com seu nome se encontra na entrada de uma das nossas salas de pesquisa. Seu nome e sua imagem reverberavam o momento futuro, sempre aguardado por nós, de revê-lo e escutá-lo de novo ensinando as artes do Cavalo Marinho na Universidade de Brasília. Aquelas aulas cheias de fascínio e encanto não se repetirão mais. Porém, seu exemplo inspirador, como um ser humano marcado pelo exercício da amorosidade, do acolhimento e da alegria; e como o pioneiro deste movimento de encontro das culturas populares com as universidades brasileiras, não será jamais esquecido.

 

Toda honra, glória e agradecimento ao grande Mestre Biu Alexandre.

 

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