OPINIÃO

Suzi Huff Theodoro é professora do PPG em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural, da UnB. Geóloga. Doutora em Desenvolvimento Sustentável.

Suzi Huff Theodoro

 

Na semana passada (31/7 a 5/8), Glasgow, na Escócia, foi novamente o palco de um relevante encontro mundial de cientistas, pesquisadores e instituições envolvidas em temas relacionados ao futuro da humanidade. O 22º Congresso Mundial de Ciências do Solo (World Congress of Soil Science) teve uma participação internacional híbrida (presencial ou remota) impressionante. Com mais de 2.000 pessoas, o Congresso foi promovido pela British Society of Soil Science e pela International Union of Soil Science. Entre as várias autoridades presentes, estava a presidente da IUSS, Profª. Drª. Laura Bertha Sánchez, representantes da realeza Britânica (mensagem gravada do príncipe Charles), eminentes cientistas das sociedades de ciências do solo de diversos países e autoridades da FAO, do IPCC, da Microsoft entre outros.

 

A programação do Congresso foi intensa e rica em perspectivas e propostas inovadoras e na apresentação de resultados de uma infinidade de pesquisas, além de eventos políticos paralelos que reuniram grupos de especialistas para discutir as complexidades, desafios e oportunidades das políticas de governança do solo, na perspectiva de sua proteção para sustentar a vida na Terra. Centenas de trabalhos, apresentados na forma oral ou pôsteres, compuseram as sessões técnicas e abrangeram uma infinidade temas. Nesse universo de possibilidades, a palavra chave do Congresso foi captura de carbono. A prioridade é reverter o excesso de CO2 na atmosfera, prevenindo os riscos, mitigando os impactos e criando alternativas, estratégias, metodologias e novas práticas. E são os solos que sustentarão a interação dessas ações.

 

Para as conferências de Plenário foram convidados(as), como oradores, Peter Gregory (professor de segurança alimentar global e presidente do Evento); Ismahane Elouafi (cientista chefe da FAO/ONU); Débora Roberts (Copresidente do GT II, do IPCC); Raveer Chandra (diretor tecnológico da Microsoft) e Suzi Huff Theodoro (professora da Universidade de Brasília).

 

Considerando a importância do Evento para o futuro das atividades socioeconômicas, interações geopolíticas globais e para a preservação do planeta, penso que minha participação representou uma novidade e, também, oportunidades extraordinárias para o Brasil. O convite à uma geóloga, pesquisadora de uma universidade pública e mulher do sul global, para falar de inovações, tecnologias e novos rumos para o uso do solo evidenciou que o mundo (ao menos das ciências) está aberto para conhecer e incorporar iniciativas transformadoras, sustentáveis e capazes de mudar o rumo da produção de alimentos e da proteção dos solos.

 

Ressalto que foi um desafio pessoal imenso, dada a relevância do evento e por ser alçada a um lugar de tão alta visibilidade. De outro lado, esse convite representou um reconhecimento do protagonismo do Brasil no tema dos remineralizadores, elevados, no Congresso, à categoria de tema inovador e promissor para a proteção dos solos e para garantir a segurança alimentar global.

 

Ao final da minha conferência, e com a autorização do presidente do plenário, Prof. David Manning (Universidade de New Castle), foi permitida a quebra de protocolo para registrar em uma foto a presença do pequeno grupo de cientistas brasileiros (professores da UnB, UFV, UFRGS, UFG, FACEG e UFRR e estudantes de pós-graduação) no palco principal. Essa ação teve o objetivo de mostrar para os atuais/futuros governantes do Brasil a importância do apoio ao desenvolvimento científico como um investimento no futuro. Igualmente importante é a consolidação/construção de redes e parcerias com cientistas internacionais.

 

Minha participação no Congresso resultou de uma profícua parceria com o Prof. Manning, no tema da rochagem. Destaco, por fim, que a pesquisa sobre o uso de pós de rocha no Brasil resultou de um longo e desafiante esforço de pesquisadores (com protagonismo da UnB e parte da Embrapa), gestores públicos e agricultores. Agora estamos começando a colher os bons frutos (e safras) desse esforço coletivo e inovador.

 

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