OPINIÃO

 

José Carlos Córdoba Coutinho é professor Emérito da Universidade de Brasília, um dos principais pesquisadores da obra de Oscar Niemeyer e já recebeu título de Cidadão Honorário de Brasília.

 

 

Eduardo Oliveira Soares é doutor em Arquitetura e Urbanismo e servidor da Universidade de Brasília. https://linktr.ee/eduares.

 

José Carlos Coutinho e Eduardo Soares

 

O Campus Universitário Darcy Ribeiro abriga relevantes acervos de arquitetura, arte e cultura brasileiras e está localizado no Conjunto Urbanístico de Brasília (CUB), tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Mundial. O campus da Universidade de Brasília é constituído de edificações criadas por renomados arquitetos que com diferentes abordagens trabalharam, de maneira singular e inovadora, notáveis partidos arquitetônicos, tipologias e sistemas construtivos. Algumas edificações ainda abrigam relevante mobiliário original. E, em espaços livres ou integradas às edificações, há obras de arte de destacados artistas, que compõem a paisagem desde a primeira década da Universidade. Paisagem marcada por distintos momentos de invenções e interrupções ocorridas nos sessenta anos de Universidade de Brasília.


A fim de orientar o futuro desenvolvimento físico e territorial, a UnB está atualizando o Plano Diretor do Campus Universitário Darcy Ribeiro por meio de Comissão criada pelo Ato da Reitoria n. 0850/2021. O objetivo é, em um processo contínuo, pensar o campus nos próximos dez anos e além. Dentre alguns eixos temáticos que estão sendo trabalhados nesse planejamento, há o relacionado com a preservação e valorização do patrimônio histórico, artístico e cultural.


A UnB ainda carece de referências e de instrumentos efetivos de identificação, valorização e preservação do seu extenso patrimônio. A sistematização das informações relacionadas ao patrimônio viabilizará a implementação de ações para a preservação e valorização do campus.


É amplo o espectro de questões relacionadas a este patrimônio considerando as edificações, os espaços livres, as obras de arte externas, o mobiliário urbano, a comunicação visual etc. Nesse momento de elaboração do Plano Diretor haverá abordagem interdisciplinar e intradepartamental em um processo que pretende mobilizar todos os segmentos da comunidade universitária. É a oportunidade de discutir assuntos e orientações sobre:


1)    a definição de critérios precisos para a identificação do que pode ser considerado patrimônio histórico, artístico e cultural do e no Campus Darcy;
2)    a caracterização dos componentes principais nas edificações, nos equipamentos e no sítio físico, destacando a sua relevância patrimonial, histórica e cultural local e nacional;
3)    a delimitação de área ou áreas de relevância arquitetônica, urbana ou histórica;
4)    a identificação de continuidades e descontinuidades considerando a integração entre o campus e a cidade;
5)    as possibilidades sobre como prever o aproveitamento e o acautelamento das extremidades sul e norte do Campus;
6)    a identificação de conexões e descontinuidades arquitetônicas e urbanísticas que ocorrem dentro do campus e que poderiam ser reforçadas ou suavizadas;
7)    a avaliação das condições de conservação e de uso em que se encontram atualmente as edificações e espaços de interesse patrimonial;
8)    a coerência ou inadequação quanto ao uso e destinações dadas aos espaços e edifícios com relevância arquitetônica;
9)    a existência ou possibilidades de políticas e programas de educação patrimonial dos usuários considerando locais, edifícios e fatos vinculados à memória institucional e à história do campus;
10)  o padrão da comunicação visual interna e externa às edificações, considerando sua vinculação com a marca da Universidade.


A partir da identificação e do diagnóstico desses tópicos a Universidade de Brasília poderá propor ações e diretrizes sobre como conciliar e adaptar a preservação do patrimônio com o atendimento a novas demandas de uso, de tecnologias e de legislações. Evidentemente essas questões devem dialogar com outros temas, como a morfologia arquitetônica; a infraestrutura de transportes e mobilidade; a infraestrutura de saneamento; a infraestrutura de energia elétrica; a conservação e gestão sustentável de recursos naturais, de áreas protegidas e demais áreas verdes; e a paisagem e o paisagismo do Campus Universitário Darcy Ribeiro.


A atualização do Plano Diretor é mais uma oportunidade de rever e de ajustar rumos nesses sessenta anos de Universidade de Brasília olhando o passado e mirando o presente e o futuro. Afinal o Campus deve ser cada vez mais um território inovador, sustentável e inclusivo como a UnB.

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