OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

Há 50 anos (1972), em evento patrocinado pela ONU, foi emitida a Declaração de Estocolmo: “A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos”.

 

Revisitando nossa civilização, com respeito à preservação do planeta para a conservação da vida, temos que reconhecer cometemos grandes erros. A ocupação dos espaços geográficos não leva em conta, sem nos importarmos com o que lá havia. Grandes áreas de nosso bioma são destruídas causando a extinção de animais, vegetais e microrganismos. A emissão de gases causando mudanças climáticas não é problema do futuro. É problema do presente. Eventos climáticos extremos são cada vez mais destacados pela mídia nacional e internacional.

 

O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, informou em 2021 que o aquecimento global está avançando mais rapidamente do que o esperado. Ele destaca o desmatamento, o derretimento de geleiras e a diminuição da capacidade de florestas, solos e oceanos de absorver o gás carbônico como fatores alarmantes. Segundo os cientistas, a dependência da sociedade de combustíveis fósseis é a razão pela qual o planeta já aqueceu 1,2 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.

 

Os cientistas, porém, afirmam que uma catástrofe pode ser evitada se a humanidade agir rapidamente. Há esperança de que um corte drástico e imediato nas emissões de gases do efeito estufa possa estabilizar o aumento da temperatura.

 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o relatório como “um alerta vermelho para a humanidade”, observando que “o aquecimento global está afetando todas as regiões da Terra, com muitas mudanças se tornando irreversíveis”. Em 1969, a primeira foto da Terra vista do espaço tocou o coração da humanidade com a sua beleza e simplicidade. Era a primeira vez que víamos este grande mar azul em uma imensa galáxia, e isso chamou a atenção de muitos para o fato de que vivemos em uma única Terra “um ecossistema frágil e interdependente”.

 

No entanto, nós, os seres humanos, hoje autoproclamados senhores deste mundo, já vínhamos há tempo transformando a Terra com nossa ação. O planeta fornece recursos que são exploráveis pela espécie humana para fins úteis. Muitos locais onde a natureza prosperava livremente foram modificados, sujeitos a intensa ação de origem humana.

 

Atualmente, a noção de nossa inconsequência é bem sabida: poluição do ar e da água, chuva ácida, desmatamento, perda da vida selvagem, extinção de espécies, degradação e esgotamento do solo.

 

Atualmente, já existe uma boa parcela dos cientistas que defende a criação de um novo período geológico: o antropoceno, do grego anthropos, que significa humano, e kainos, que significa novo. Esse termo foi popularizado em 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de química em 1995, para designar nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem no planeta. A mudança de período aconteceria porque, segundo cientistas, não há mais condições de dividir as atitudes humanas e as transformações do meio ambiente.

 

A biologia, a química, a genética e a agronomia são alguns dos campos em que os usos da natureza são exaustivamente desenvolvidos.


Cientistas e pesquisadores alegam que as transformações causadas pelo homem na natureza são irreversíveis e, por conta disso, estaríamos entrando em uma era definitiva - e que para muitos pode acabar num fim trágico.

 

Esse caminho que pode nos levar à autodestruição pode ser entendida com uma evolução inversa. Nos primórdios de nossa civilização existia um vínculo de reverência, em que as leis da natureza estavam em harmonia com a vida social e dos costumes. As leis morais agora nem sempre estão em harmonia do natural, paralelamente com o ordenamento jurídico, esse por vezes ligados a interesses políticos, a ordem econômica, como forma de buscar mais lucro e proveito. O que se quer é uma nova compreensão da relação entre o homem e o meio ambiente, que se lute pela concretização do nosso paradigma de sustentabilidade, do nosso objetivo de proteção e preservação do meio ambiente e da preservação da vida no planeta.

 

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Publicado originalmente no Correio Braziliense em 14/10/2022.

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