OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

Nos apagar das luzes do atual governo, um novo corte de orçamento.

 

Educação nunca foi prioridade no Brasil. No período colonial, ela era restrita a alguns filhos de colonos e a indígenas aldeados. No período imperial, Dom Pedro I outorga a primeira Constituição do Brasil, na qual se estabelecia que a educação primária seria gratuita para todos os cidadãos do país. No entanto, a educação objetivava a formação de representantes políticos, o que contribuía para discriminar o culto do inculto assim como a nobreza em relação aos seus súditos. Ao contrário de vários países latino-americanos, as primeiras Universidades no Brasil, surgiram no século 20.

 

Apesar de tardias, as Universidades, sobretudo as públicas (federais, estaduais e municipais), tiveram um impressionante desenvolvimento, com a implantação de um sistema de pós-graduação a partir de década de 60 do século passado. Esse sistema permitiu uma inflexão e a consolidação do sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação.

 

O cenário da educação brasileira atual é desolador. Apesar de políticas de inclusão educacional, não atingimos um patamar de qualidade satisfatório. A evasão é assustadora. A formação de professores não é contemporânea. Os currículos ainda contêm muitos conhecimentos inúteis. Os salários dos professores, sobretudo da educação básica, são vergonhosos. Esses e outros exemplos fazem parte do cenário da educação brasileira.

 

Nos últimos anos esse cenário tem piorado. Testemunhamos um ataque constante às Universidades públicas. Um ex-ministro da Educação definiu o campus universitário como balbúrdia. O ensino superior público, apesar dos cortes orçamentários, da redução de concursos para renovação de seus quadros, resiste com heroísmo, sobrevivendo e esperançosos por dias melhores.

 

Nos apagar das luzes do atual governo, um novo corte de orçamento foi feito no Ministério da Educação na ordem de R$ 1,68 bilhão, sendo R$ 220 milhões das Universidades e Institutos Federais de Educação. Na Universidade de Brasília, o corte foi da ordem de R$ 2 milhões, afetando os remanejamentos internos para o pagamento da empresa que executa a manutenção dos prédios, comprometendo a continuidade de aulas e pesquisas.

 

Chegou a hora de interrompermos essas insanidades que certamente nos conduzirão a um cenário triste e de retrocessos. Vamos olhar esperançosos para um futuro melhor e feliz. É pertinente lembrar o pensamento de Immanuel Kant: “O ser humano é aquilo que a educação faz dele.”

 

Publicado originalmente no Monitor Mercantil em 30/11/2022.

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