OPINIÃO

Germana Henriques Pereira é professora Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, da Universidade de Brasília. Doutora e mestre  em Literatura pela Universidade de Brasília. Graduada em Licence En Portugais, em Licence En Français Lettres Modernes, em Maitrise En Lettres Modernes pela Université de Rennes II, França. Atualmente é diretora da Editora UnB.

Germana Henriques


A angústia vivida nos últimos tempos, que nos asfixiou e nos acorrentou numa rede de ódio e intolerância, nos levou também a lutar, a esperançar por um Brasil de amor, que nos levou à ação e à mudança como um novo sentido da vida. Porém, não vencemos ainda o fanatismo que se encontra sob a máscara religiosa, provocando paixões e doutrinas violentas. Assistimos militantes fanáticos devorarem os seus deuses e expelirem mentiras de ódio como se verdades fossem.


Mesmo assim, nos fortalecemos na inspiração para as necessárias transformações de que o país necessita, principalmente reagindo aos discursos de ódio, de intolerância e contra o excesso de autoritarismo com a imposição de regras e de comportamentos experimentados em escolas e em ambientes familiares. À diferença do conservadorismo tradicional, que sempre foi forte no país, o fascismo que despontou no Brasil nesta última quadra da história, com as suas muitas caras, disfarçadas ou não, mostrou sua face cruenta sob uma ideologia nacionalista e militarista.


As circunstâncias com que chegaremos a este novo ano, é importante notar, tiveram como protagonistas a verdade, o amor, a paz e o sentido da vida, pautadas pela resistência que se apresentou no combate à mentira e às deformações da realidade processadas diuturnamente para a manipulação que serviu de sustentação ao governo que agora se retira. Foi neste ambiente adverso aos direitos humanos, à ciência e à educação emancipadora que foi levantada a bandeira da ética na política. E deu certo!


Foi preciso reflexões ético-políticas e morais para compreender a relação entre ficção, realidade e imaginário diante de uma possível fragilidade do que é de fato verdadeiro e sobre o quanto teorias conspiratórias podem ser nocivas ao debate público e suas implicações políticas. Para Hannah Arendt, não se faz política sem fatos nem eventos. A questão é que os fatos podem ser distorcidos e até mesmo apagados e podem não voltar nunca mais. Segundo ela, “a veracidade nunca esteve entre as virtudes políticas, e mentiras sempre foram encaradas como instrumentos justificáveis nestes assuntos”(1). Outro conceito caro para Arendt é a responsabilidade coletiva: “a questão nunca é se um indivíduo é bom, mas se a sua conduta é boa para o mundo em que vive. No centro do interesse está o mundo e não o eu”(2).


O que importa agora é que começaremos 2023 com a certeza de que é fundamental para o nosso futuro a maior transparência e a visibilidade do poder, como marcas da democracia, e a garantia de acesso da população aos serviços essenciais para o seu bem-estar, respeitando os direitos humanos e assegurando um país onde não habite a violência.

1. ARENDT. Hannah.  A mentira na política. In Crises da República. São Paulo: Editora Perspectiva, 2017, p. 15.
2.ARENDT, Hannah. Responsabilidade e julgamento. São Paulo: Companhia das Letras.  2004, p. 218.

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