OPINIÃO

Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara

 

Na sociedade da informação, uma responsabilidade deve ser a precisão e o contexto da informação, tanto em conversas privadas quanto na opinião pública. Você já deve ter ouvido expressões como “tem um estudo que diz”, como forma de sustentar um ponto de vista numa discussão.

Já ouvi até filósofo renomado mencionando, num telejornal nacional, “uma pesquisa”, de maneira vaga. Que pesquisa é? Quem é o autor? Pertence a qual instituição? Onde o estudo foi publicado? Qual o método, a amostra, o universo etc.?

Um pilar científico é a referência, ou seja, quem foi que afirmou isso ou aquilo, em qual obra, em qual meio e página? A partir de alguns dados básicos, é possível retomar aquela informação para analisar a veracidade e a pertinência dela, inclusive, para outro contexto. Muitas vezes, menos importa o resultado e mais o método, menos o que diz e mais como diz.

Ter compromisso com o conhecimento científico pressupõe cautela, em respeito à consciência da complexa estrutura colaborativa, técnica, processual e metodológica que envolve este tipo de saber.

Não confundamos artigo científico com consenso e nem hipótese com resultados. A pós-verdade também se vale da pretensa “informação científica” para criar as próprias realidades.

A ciência não parte de uma opinião e busca meios de sustentá-la. Os resultados são consequências. Pesquisa não é sinônimo de verdade incontestável e nem de pura genialidade. É fruto de imenso esforço, trabalho individual e em equipe, investimento e reflexão.

Dizer que crianças finlandesas são mais propícias a aprender música clássica nas tardes de verão, não significa que isso, necessariamente, seja aplicável também para estudantes que moram na 710 Sul.

Portanto, “uma pesquisa diz” pode ser empregada como manipulação argumentativa, sem fundamento e conexão com os fatos. Não usemos o nome da ciência em vão!

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