Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara


A ideia de liberalismo tem sido empregada com pouca precisão. É normal que ao longo da história conceitos sofram alterações em suas interpretações. Nos Estados Unidos, o liberalismo é mais associado aos progressistas, enquanto na Europa tende para a direita. No Brasil, o liberalismo se confunde com o neoliberalismo, voltado a uma questionável radical liberdade econômica.

Provavelmente, você já ouviu algo assim: “sou conservador nos costumes e liberal na economia”. Essa ideia, a mim parece, desconsidera a relação entre sociedade, moral, ética, cultura e economia. A dinâmica das relações econômicas também mexe com o nosso ethos cultural e até psicológico, e vice-versa.

A intensidade dos movimentos econômicos não está desvinculada das criações e dos valores artísticos e de comportamento. A economia também é uma base para as relações e as expressões humanas. O próprio Adam Smith, o “Pai da Economia Moderna”, veio das reflexões sobre hábitos e costumes.

Se o capitalismo precisa da inovação e do empreendedorismo, também depende de sujeitos afinados com os valores do sistema. Numa sociedade conservadora, o fluxo das atualizações e de aceitação de novos pensamentos e comportamentos é menor, o que “atrasa” o “avanço liberal” (aspas). O capitalismo tem, por exemplo, mais sintonia com o espírito protestante do que com o catolicismo.

Dificilmente, as maiores empresas de tecnologia têm valores e comportamentos tradicionais, porque os seus negócios buscam, exatamente, sobrepor o terreno pré-moderno e até moderno. A ideia é a de que a mudança em si é um valor, a novidade deve ser constante e passa pela digitalização, valorizando o meio pelo qual se inova.

Economia, costumes e cultura devem ser pensados de forma interligada. Informação e conhecimento não se limitam a caixinhas disciplinares. Teoria dialoga com a prática e vice-versa.

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