OPINIÃO

Otávio de Tolêdo Nóbrega é professor da Universidade de Brasília, especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-DF e membro do Conselho dos Direitos do Idoso do Distrito Federal (CDI/DF).

Otávio de Tolêdo Nóbrega

 

A demência é uma denominação genérica usada para descrever uma série de degenerações progressivas do cérebro, com perda da capacidade de pensar, lembrar e raciocinar em níveis que afetam as atividades diárias da pessoa. No passado, era até habitual que demências fossem chamadas de “senilidade” e que fossem consideradas uma parte normal do envelhecimento, por não se entender que é uma doença. Até metade de todas as pessoas com 85 anos ou mais podem ter demência, mas demência não é uma parte normal do envelhecimento.

Apesar de o Alzheimer ser a forma mais frequente da doença no mundo, a demência vascular segue firme e forte no segundo lugar, rivalizando de frente com o Alzheimer em países como o Brasil, onde estudos apontam a forma vascular consegue ser até mais comum em extratos da sociedade de menor nível socioeconômico. A demência vascular ocorre quando artérias cerebrais são danificadas, bloqueadas ou enfraquecidas e impedem o aporte adequado de oxigênio e nutrientes. Quando o fluxo sanguíneo é severamente alterado, isso pode levar a uma série de hemorragias (derrames) ou obstruções (isquemias) com consequente morte de neurônios (produção de infartos). A demência vascular sozinha ou em combinação com a doença de Alzheimer é responsável por cerca de 30% de todos os casos de demência em geral no mundo. Os principais fatores de risco são aqueles já bastante bem conhecidos, que também se associam com os distúrbios cardíacos e incluem pressão alta, diabetes, colesterol alto, aterosclerose, obesidade e tabagismo, além de histórico pessoal ou familiar de ataque cardíaco e de batimentos cardíacos irregulares ou anormalmente rápidos (fibrilação atrial).

Como ainda há desconhecimento generalizado sobre o que mais determina essa elevada prevalência da demência vascular no Brasil e sobre os determinados motivos biológicos e/ou comportamentais para que a doença se desenvolva em velocidades diferentes a depender do indivíduo, foi lançada uma parceira entre pesquisadores da UnB em conjunto com o Instituto Biocárdios de Cardiologia/DF, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP) para realizar o estudo científico mais abrangente em condições de vida real acerca da demência vascular.

 

O estudo terá apoio da FAPDF e acompanhará por anos pacientes particularmente vulneráveis do ponto de vista fisiológico, os idosos com 75 anos de idade ou mais, para revelar o peso de cada contribuição (bioquímica, social, econômica, ambiental, emocional, entre outras) para o desenvolvimento e progressão clínica da demência vascular em pacientes idosos do DF. Em nome do grupo de pesquisadores que subscreve a proposta, esperamos poder em breve divulgar resultados e recomendações que contribuam para um envelhecimento com saúde e autonomia a todos.

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