Antonio Sebben

Há exatos 30 anos ministrei a primeira aula da disciplina de graduação Anatomia Animal, criada para o curso de licenciatura em Biologia noturno da UnB, que então se iniciava, buscando oferecer um conteúdo abrangente, em um contexto didático inquisitivo, desafiador e estimulante, com abordagem comparativa por sistema orgânico.  Com a utilização de material didático próprio e foco em espécies da fauna local, criamos uma nova referência conceitual e metodológica para o ensino da Anatomia. Esta iniciativa teve imediata aceitação por parte dos estudantes e, em seu tempo, o reconhecimento da comunidade acadêmica. Passados alguns anos, o que era ensino evoluiu para a fundação do Laboratório de Anatomia Comparativa de Vertebrados – lacv.unb, inserção nos programas de pós-graduação Biologia Animal e Profbio, e forte atuação na extensão universitária por meio de produção de material didático e participação em eventos locais e nacionais, como o Bio na Rua e a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Desenvolvi uma técnica original de microdissecação fisiológica voltada para o estudo anatômico e fisiológico de pequenos animais (Sebben, 2007 - Herpetologia no Brasil II - Sociedade Brasileira de Herpetologia), que possibilitou ampliar os horizontes dos estudos morfológicos, com preservação de forma, coloração, textura, relações anatômicas e cuidado estético.   

A crescente produção de material didático naturalmente nos conduziu a investir na produção de um livro. No entanto, após contatos com diversas editoras, a estimativa de elevado custo comercial da obra nos levou a optar por um formato digital, e-book. A partir de então, passamos a produzir o primeiro capítulo, tratando dos sistemas cardiovascular e respiratório, seguindo a sequência temática do programa da disciplina. Essa obra completa, composta por cinco volumes foi concluída com o lançamento do último volume, e se encontra depositada no Repositório da Biblioteca Central da UnB, para acesso livre e gratuito. Além dos e-books, produzimos Objetos Educacionais em formato de vídeos digitais.  Os vídeos sobre atividade cardíaca de anfíbios, por exemplo, substituíram definitivamente o uso desses animais em aulas práticas de fisiologia. Geramos um acervo de imagens composto por cerca de cinco mil cromos e negativos e em torno de 30 mil imagens digitais, que, esperamos, seja incorporado a uma coleção institucional para, como os e-books, sejam disponibilizados para acesso universal.

A ética e o cuidado estético no trato com o material anatômico representam, além do devido respeito para com os animais utilizados, uma forma de apresentar as estruturas anatômicas e os organismos em vida. Esse diferencial atrai a atenção de estudantes e de todos aqueles que desejam aprender sobre a vida. Trazemos um pouco da arte moldada pela evolução, evidenciando semelhanças e diferenças morfológicas que ajudam a compreender, ao menos em parte, essa complexa rede de relações entre os seres vivos. Por fim, cabe destacar o papel dos estudantes, na medida em que eles foram agentes ativos ao longo desse processo de criação. Suas críticas e sugestões foram e continuarão sendo fundamentais para o desenvolvimento e aprimoramento da relação ensino – aprendizagem em anatomia animal.

Ao longo de três décadas de trabalho, inúmeros estudantes de graduação e de pós-graduação, técnicos e docentes da UnB e de outras instituições participaram dessa caminhada e foram determinantes para chegarmos até aqui. Tivemos no CFS – IB, no A3M – UnB, bem como no Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e na Finep o apoio fundamental para a consolidação da Anatomia Animal e o desenvolvimento desse projeto, fruto do exercício da liberdade acadêmica, princípio pétreo da nossa Universidade de Brasília. A todos, dedico essa obra, que, espero, continue em evolução, visando ao seu contínuo aprimoramento.